7 = SILVINO
Fábio pediu ao pai um inusitado presente de aniversário:
--Eu quero um negrinho para brincar comigo.
--Está bem, quando eu achar um negrinho do seu tamanho eu compro pra você.
Yolanda protestou:
--Escravo não é brinquedo. Peça um cachorro ou um cavalo.
--Cachorros e cavalos não sabem jogar bola nem pular corda.
A mãe não deu maior importância e já tinha até esquecido essa conversa quando um belo dia o Quim chegou trazendo um negrinho pela mão.
Yolanda escandalizou-se
--Eu não acredito que você comprou uma criança para servir de brinquedo para o Fábio!
--Não foi bem assim. Na fazenda do Coronel Vicenzo morreu uma negra e deixou este garoto. Ele me vendeu baratíssimo, pois não estava a fim de criá-lo.
Yolanda olhou cheia de pena para o pobre menino e disse:
--Está bem, mas o Fábio terá que tratá-lo muito bem, como um amiguinho e não como um brinquedo qualquer.
Nem precisava ter recomendado isso, pois o Fábio e o Silvino foram grandes amigos.
Os dois meninos dormiam no mesmo quarto, comiam a mesma mesa e brincavam juntos o dia todo.
Quando, já mais crescidos, o pai contratou um professor para ensinar-lhes a ler e escrever, os dois participaram das aulas, sendo que o Silvino desde cedo demonstrou uma inteligência acima da média.
O professor surpreendeu-se:
- Nunca vi um negro com tal potencial!
Pudera! Ninguém se preocupava com o QI dos escravos. O que contava era a força física e a resistência aos trabalhos pesados do campo.
Naquela época havia poucas escolas. Quem queria que os filhos tivessem alguma instrução, contratava professores particulares e, mais tarde, adolescentes mandava-os para um colégio interno onde completavam sua educação. Raros eram os que cursavam as faculdades que eram poucas e caras.
Quando chegou a hora do Fábio ir para o Colégio ele foi logo dizendo:
- Só vou se o Silvino também for.
O pai concordou, mas os Colégios tradicionais, de bom nome recusaram-se a aceitar um aluno negro.
-Não é por nada, desculpavam-se, mas os outros alunos podem não gostar ou os pais... Podemos até perder alunos por isso... Afinal, é uma situação inédita...
E o Fábio teimava:
- Sem o Silvino eu não vou.
E o pai não sabia o que fazer para não desgostar o filho mimado.
O Padre Bartolomeu, um ferrenho abolicionista,reitor de um colégio religioso, quando se defrontou com o incrível caso do Coronel que queria matricular seu escravo juntamente com o filho, não teve dúvidas:
- Os garotos já estão matriculados!
Os outros membros da diretoria foram contra. Embora se declarassem abolicionistas, achavam que aceitar um aluno negro no colégio era contraproducente.
Mas o Padre foi categórico:
- De que adianta dar-lhes a liberdade se continuarmos os discriminando?
E, como ele, além de ser o reitor, era o maior acionista da escola, os outros tiveram que acatar-lhe a decisão e o Silvino começou seus estudos ao lado dos rapazes brancos.