A MOÇA FEIA...
Dia desses, numa roda de amigos, a conversa girava sobre as potencialidades das criaturas humanas, que, em circunstâncias várias, cada uma dá o que tem, quando alguém contou este caso verídico, deveras interessante a respeito do tema.
Certa jovem trabalhava numa repartição pública e, embora muito competente na atividade profissional, fisicamente era, segundo ele, feia que dava pena...
Os colegas de serviço viviam a chasquear, a cochichar a respeito dela, afirmando que jamais arrumaria namorado, pois mulher feia como aquela não servia nem para bucha de canhão...
Assim passavam os dias, o pessoal debochando “à boca pequena” e a moça trabalhando normalmente, sem se importar com a rejeição que percebia dos colegas os quais, saíam juntos para restaurantes, festas, etc., e não a convidavam.
Jamais algum deles prestou atenção mais demorada na colega, tentando encontrar algum atributo interessante que pudesse lhe dar alguma possibilidade, principalmente junto ao público masculino.
Mas, eis que certo dia, ela chega na repartição toda contente, feliz mesmo, só sorrisos, e diz à turma que estava namorando. Tinha arranjado um namorado! Ninguém acreditou de pronto, e, alguns até pensavam: “Se for verdade, imagine a cara do sujeito...” “Pois, os semelhantes se atraem...”
E conjeturavam entre si como seria o tipo que ela arrumou para namorar.
Os dias passavam e a jovem, cada vez mais feliz... Entretanto, seus companheiros de serviço debochavam, debochavam...
Até que um dia, como outro qualquer, sem alteração na rotina da repartição , aproximou-se do balcão um moço bem vestido, roupas da moda, cabelos bem penteados, calmo, olhar tranqüilo. Um dos integrantes da equipe ergue-se e vai até ele pensando tratar-se de mais um contribuinte comum e, o jovem, sem delongas, pergunta pela moça, a feia, que no momento estava ausente. O atendente insiste dizendo que poderia servi-lo; o rapaz diz-lhe que era com ela o assunto e que iria aguardá-la.
Passados alguns minutos, a jovem entrou na sala. Seus olhos se iluminaram. Ela sorriu para o rapaz que se levantou rapidamente e lhe deu rápido beijo nos lábios.
A turma estava boquiaberta, se entreolhavam e não podiam acreditar no que viam. Então a jovem falou, toda faceira olhando para o pessoal: “Este é fulano... Meu namorado!” Pegou na mão do rapaz e os dois saíram. As moças da repartição não podiam conter a inveja, diante da cena. Afinal, o jovem namorado da colega feia era um “gatão...” E agora...
No dia seguinte, todo mundo estava curioso para saber qual o terreiro de macumba que ela fora ou qual a cartomante, qual o “trabalho” que fizera para “prender” a ela um moço bonito como aquele.
Indagaram curiosos, qual o segredo para se “pescar” um namorado daqueles e ela, sem se perturbar, respondeu:
- Ora, eu tenho espelho em casa. Sei que meu rosto não é bonito, meu corpo não é escultural, entrementes, percebi que tenho um atributo que poucas moças têm: a voz! Minha voz é de locutora de aeroporto, até muitas vezes me peguei imitando aquelas vozes. Certo dia, no ônibus a caminho de casa, coletivo lotado, empurra-empurra, alguém me pisa no pé, olho para o lado e vejo aquele rapaz bonito, que me pede desculpas e eu, buscando lá no fundo, o melhor timbre possível, disse: “não foi nada!...”.
- O moço fora fisgado! Senti no ato! Ele puxou conversa dizendo que iria descer no próximo ponto e eu, que morava dois à frente, disse, sem pensar, que também iria descer. Ele sorriu, descemos e começamos a conversar e fomos caminhando até minha casa. Ele indagou se poderia voltar para uma visita, eu concordei, ele voltou, começamos a sair e, já estamos pensando em marcar uma data para ficar noivos. Vamos nos casar!...
Os meses se passaram. A moça feia noivou, casou e, pediu demissão do serviço.
Tempos depois, algumas colegas a encontraram numa loja e curiosas, indagaram:
- Então, como vai a vida de casada?
- Vai a mil maravilhas!
Todavia, as ex-colegas olhavam-na um tanto desconfiadas, talvez pensando: “até quando?...”
Ela percebeu no ar a dúvida delas e disse:
- Continuo investindo cada vez mais na minha voz; meu marido acorda, pela manhã e a primeira coisa que faço é dar-lhe bom-dia com voz melodiosa, perguntando-lhe se quer algo especial para o café ou se quer isto ou aquilo, ele se derrete e, assim vamos vivendo, afinal, cada um deve dar o que tem...
As colegas foram embora, raladas de inveja, ainda não se conformando, como era possível aquilo. Elas que se julgavam bonitas estavam “encalhadas” e a moça que era feia estava casada e muito bem casada...
Fiquei a meditar no relato e cheguei à conclusão: São legítimos estes aforismos populares que dizem: Quem vê cara não vê coração! Que ama o feio bonito lhe parece! As aparências enganam bem mais do que supomos! Qualquer ser humano, por mais desprezível, terá algo de bom! Cada um dá o que tem!...