Máquina do Tempo

“… É incrível como a vida nos oferece tantos sonhos e no meio do caminho, ela mesma acaba nos fazendo perder muitos deles, nos fazendo acreditar cada vez menos nos que ainda nos resta. Crescemos correndo atrás do amor ou de qualquer desejo, como quem colhe uma rosa sem saber de seus espinhos e diante da dor, acabamos passando a agir com temor e só a partir daí percebemos o quão frágil podem vir a serem os nossos sonhos mesmo os mais importantes, não resistindo diante das armadilhas que a vida nos apresenta…”

Maria Clara pelo momento se encantou, logo se apaixonou e de forma pura e nobre se entregou, mas o que ela nunca imaginou, foi um dia sentir em seu coração uma dor intensa trazida por quem tanto confiou e amou e quando aconteceu, sentiu lhe fugir o chão, onde se questionou se em algum momento teve realmente razão ou se apenas se deixou levar pela fantasia, se realmente seguiu seu coração ou não soube entender o que realmente acontecia. Fato é que se machucou e do sentimento que tanto sonhou, somente dor e frustração lhe sobrou.

Em meio à frustração e envolta pela multidão, ela não vê o tempo passando a sua frente, onde enquanto procura algum foco que a permita seguir, não percebe as arvores floridas perderem as suas folhas na entrada do inverno. O dia passa diante da pequena poça deixada pela chuva, que reflete o brilho fosco do sol se pondo dando lugar ao brilho da lua minguante e ali totalmente perdida, ela se mantém com seu espírito ferido.

Maria Clara então decidiu se afastar um pouco da cidade grande e então, optou por passar um tempo com a sua família no interior, onde completou seu 20° aniversário junto a eles e de presente, seu pai lhe deu de presente uma pulseira dourada que pertencia a sua falecida mãe, o que a deixou bastante emocionada em meio a tantas lembranças e a sua avó ao notar sua feição triste, lhe deu um pingente que ela sempre carregava em mãos, uma pequena máquina do tempo detalhada em prata e ouro, onde segundo ela, sempre lhe ajudou em momentos difíceis e naquele momento, Maria Clara juntou pingente e pulseira e ficou ali olhando emocionada perdida em pensamentos, viajando no tempo e desde então, ela não mais se separou de sua pulseira, onde passou a carregá-la para todos os lugares e sempre que ela a segura firme, acaba pairando, viajando no tempo, revivendo passado, fantasiando o futuro e se desvencilhando desse presente tão cheio de dúvidas e assuntos inacabados.

Querendo ficar um pouco a só Maria Clara sai pelo campo, onde enquanto caminha, se depara com a balança hoje vermelha onde quando criança balançava por horas e mais horas, na época amarela. A marca do gramado falho feita por seus pés ainda estava ali e enquanto sentava tendo que baixar mais do que suas lembranças lembravam, sorriu diante daquilo e enquanto balançava de olhos fechados, sentia o mesmo ar puro, o que lhe fez reviver e enxergar em sua mente a imagem de como tudo era naqueles tempos, onde seus sonhos ainda estavam intactos e tudo parecia possível e fácil.

Enquanto revivia aqueles momentos, sentiu na pele a temperatura caindo, onde imaginou que logo iria chover, assim como sempre fazia em sua infância, algo que se perdeu em meio a cidade grande. Ela então se levantou e seguiu rumo a casa, mas no meio do caminho, ela se deparou com uma égua tendo dificuldade em dar a luz ao seu filhote e sabendo que logo cairia um temporal, decidiu fazer como seu pai sempre fazia quando acontecia algo assim e diante daquele milagre, ela sentiu uma forte emoção lhe tomar, onde segurou firme a sua pulseira e desde aquele momento, sempre que algum momento lhe faz bem, sempre que algum momento se mostra marcante, ela a segura com firmeza, na tentativa de fazer o tempo parar e de certo modo, ele parava ou pelo menos pairava, durando mais que um simples momento e assim, ela encontrou uma forma de controlar no tempo, de criar e acompanhar o seu próprio tempo, não mais se sentindo perdida, sabendo aproveitando cada momento. Ela então volta à cidade e enquanto observa a pressa da multidão a sua volta, ela apenas respira fundo e sorri, seguindo em seu próprio tempo.

O tempo passou e Maria Clara enfim seguiu, esqueceu, persistiu e se reergueu... foi então que aquele par de olhos sorriu novamente acreditando, assim como a brisa doce de cada manhã que sempre vem para nos mostrar que é só o começo e não o fim...

...E assim ela caminha plena sobre a vida, tal como um beija flor, planando de sentimento em sentimento, na esperança de um dia beijar o amor e para todos os olhares que lhe ofereceram uma imagem, ela lhes ofereceu as costas e sumiu no horizonte, tal como uma miragem, deixando apenas uma mensagem:

“… Ser feliz é tão fácil e tão doce, uma sensação tão frágil, tão plena e muito melhor do que um dia eu imaginei que fosse…”

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“Aprendi que a vida não pára, para que nós não percamos nada no meio do caminho e nem espera, para que resolvemos nossas dúvidas e incertezas para que assim, ela enfim possa seguir... Ela apenas segue em seu próprio tempo e na tentativa de acompanhá-la, acabamos sempre deixando algo para trás, acumulando mais e mais dúvidas e incertezas. Infelizmente não da para acompanhar tudo, nem tudo dá para nos acompanhar, mas aprendi também que o tempo não tem um destino certo e quando enfim acreditamos estar seguindo em frente, estamos na verdade apenas focados num novo horizonte, como quem caminha perdido no meio do deserto escolhendo uma direção qualquer esperando que nos leve a algum lugar, o que me faz pensar que caminhamos sobre uma estrada de infinitas incertezas onde o que nos move, é o “ter que acreditar” onde por mais que tentemos planejar e enxergar para onde estamos indo, só quando chegarmos seja lá aonde for, saberemos onde nossas escolhas nos levarão”.

(Versão resumida para post)