MEMÓRIAS DO BUSCAPÉ = a sua novela virtual
6 = BUSCAPÉ.
6 = BUSCAPÉ.
Ele chegou à fazenda Santa Yolanda com um lote de escravos. Magrinho, maltratado, quase uma criança O Coronel achou que ele era muito fraquinho para o trabalho pesado e deixou-o na Casa Grande para pequenos serviços, ou melhor, dizendo, para não fazer nada a não ser brincar com as crianças e fazer travessuras.
Todos gostavam dele, pois era simpático e mesmo depois de repreendê-lo por alguma arte, o Sinhô acabava achando graça em suas diabruras e ele, esperto como era, não tardou a perceber isso e se aproveitar da situação.
Mas, não era mau. Era afetuoso e tinha uma veneração por toda a família. Estava sempre pronto a servir, era dócil e humilde.
Buscapé tinha a mesma idade do sinhozinho Pere. O nome dele era Péricles, mas Buscapé nunca conseguiu pronunciar o seu nome. Os outros acharam graça e o apelido pegou. Ninguém mais chamou o garoto de Péricles.
Crianças, não entendiam as diferenças sociais e, mais tarde, adolescentes, achavam que isso era besteira.
Tinham quinze anos quando Pere se engraçou com uma escrava, a Maria Antonieta, neguinha metida que dizia para todo mundo que tinha nome de rainha e ficou mais metida ainda quando começou a namorar o Sinhozinho.
Os dois se encontravam às escondidas em um velho paiol abandonado e era Buscapé que levava e trazia os recados, marcava os encontros e vigiava quando os dois estavam lá dentro para ver se ninguém aparecia.
Isso tudo, escondido do Sinhô que não permitia libertinagem nem entre os escravos, imagine só se soubesse...
Mas, o feitor desconfiou, perseguiu-os e acabou pegando-os em flagrante.
Correu contar para o Coronel, é claro, e este chamou os dois meninos no quartinho do fundo e fechou a porta.
O quartinho do fundo era temido pela criançada. Era lá que o pai ou a mãe os chamavam para passar as descomposturas.
Controlados, nunca lhes chamavam a atenção na presença de terceiros, mas, exigentes, não deixavam passar nenhuma travessura sem um bom pito ou até umas palmadas, no quartinho do fundo.
Os meninos estavam apavorados. Que será que o Coronel ia fazer?
Tirou a cinta devagar, prolongando os momentos de aflição, mandou o Pere baixar as calças e aplicou-lhe umas cintadas.
Buscapé estava apavorado. Se no filho ele bateu desse jeito (ele pensou que as cintadas tinham sido para valer), imagine só o que ia fazer com ele.
Sempre vagaroso ele recolocou a cinta e pegou o chicote pendurado na parede.
- Tire a camisa!
Buscapé tremia tanto que não conseguia desabotoar a camisa. Nunca um negro tinha apanhado naquela fazenda. Seria ele o primeiro?
Depois de uma eternidade de angústia, quando ele finalmente conseguiu despir a camisa, o Sinhô falou:
- Não precisa tremer negrinho covarde! Eu não bato em negro. Pode vestir sua camisa, mas saiba que se fizer outra traquinagem, eu o ponho a venda.
Buscapé sentiu-se mais humilhado e envergonhado do que se tivesse apanhado.
Pere foi mandado para um colégio interno e a Maria Antonieta foi vendida.