Um Tal Coyote.

Os Policiais receberam do comando uma denúncia anônima informando que um tal coyote vendia drogas nas redondezas onde patrulhavam.

O denunciador (a) dissera no 190 que na rua onde morava havia uma casa onde um tal coyote vendia drogas. Os viciados batiam no portão dizendo coyote como senha, e um rapaz saia entregando pequenas porções de drogas. Assustado, olhava para os lados, entregava as drogas e voltava rapidamente para dentro, enquanto os viciados saiam de esgueira rumo às suas delinqüências.

A três quarteirões dali Coyote descia do ônibus rural, sujo e cansado, carregando podão, mochila e garrafa térmica, que há muito precisava ser substituída. Precisava de comida; tremia de tão cansado; talvez a pressão...

Coyote não tinha lá muito tempo pra conjeturas; sua vida era trabalho e casa.

Seus seis filhos, sua falta de qualificação e ao mesmo tempo sua extrema responsabilidade para com a família, mulher e filhos, era tamanha que não se via fazendo outra coisa senão trabalhar o quanto mais para dar o melhor possível a seus filhos.

Era um surrado servil, ao contrário do deputado eleito o ano passado, aquele o qual Coyote votara porque o dito deputado lhe enviara um cartão de aniversário, o único por sinal que recebera em toda vida, pedindo-lhe voto, “meu companheiro”, um empanturrado ser vil. Entre ambos havia um deserto de desigualdades combatidos veementemente, em belos textos, pela Constituição Federal.

Coyote virou a esquina e ouviu um chamado logo atrás de si:

“Coyote! Coyote!”.

Parou, olhou, levou um soco na cara, jogado no chão e algemado sem meias palavras. Sua garrafa térmica velha fora chutada para longe pelos policiais, dignos cumpridores de seus deveres, em sua maioria, mas há exceções.

Na cadeia lhe deram chutes na barriga e lhe chamaram vagabundo. Chorou em silêncio para que não lhe levasse a mal e lhe machucassem mais.

No dia seguinte vieram logo pela manhã, mais calmos, lhe dizendo:

“Coyote, não é você! Mas pode virar defunto caso abra o bico!”.

Estremeceu e olhou no vazio...

Foi para casa, andando meio torto, com muita fome e uma dor que não sabia mais de onde vinha...

É que o denunciante anônimo se enganara na distinção entre coyote e raposa...

Savok Onaitsirk, 25.01.10.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 26/01/2011
Código do texto: T2753214
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