DECLARAÇÃO DE AMOR



Declaração de amor...

Ele já estava cansado de procurar em si mesmo uma resposta para tanta indiferença da esposa. Caprichava no penteado, mudava sempre de perfume, mas ela continuava cada vez mais distante. Parecia fiel, apesar de às vezes, manifestar uma irritação profunda, um sorriso irônico e amargo, que lhe enfeava o rosto ainda ovem e bonito.

Ele tentava. Sempre, jamais desistia. Voltava de cada sofrimento, de cada dor sentida, sempre mais forte, corajoso e brilhante. Os amigos o admiravam e desejavam sempre estar ao seu lado. Apesar dele agora evitar toda aquela gente dentro de casa. Aos indiscretos ele não respondia, mas notava-se que se retraia.

Os anos correram após o acidente na estrada. Agora ele tinha uma amiga constante a cadeira de rodas. Ele estava mais seguro, e até mais bonito. Pois abandonara um trabalho cansativo que o levava a viver correndo de lá para cá. Tinha uma vida. E os últimos cinco anos, junto com a esposa, o filho, os pais, os amigos foram muitos importantes, para encarar suas limitações, aceitar determinadas situações em que era excluído só em um olhar.

Ele se conhecia o bastante para admitir que ultimamente estava meio mordido com ciúmes da esposa. Era difícil manter-se indiferente a ela. Era difícil fingir que estava tudo bem, quando dentro de si, as emoções, os pensamentos, os sentimentos, se misturavam e às vezes, pareciam querer explodir-lhe o cérebro.

Mas ele era acima de tudo apaixonado pela esposa, pela vida, e a beleza que era sua existência. Naquela sexta-feira, pediu ajuda a sua empregada e preparou uma surpresa para ela, sua amada. Retiraram a maior parte dos móveis da grande sala, abrindo espaço para que pudessem dançar. O filho ainda pequeno foi mandado para a casa de uns amiguinhos, a mãe de um deles, ajudou-o a executar o plano e ficou de trazer o menino bem tarde. Ele comprou rosas pela Internet e mandou entregar no trabalho da esposa com um lindo cartão. A empregada tinha preparado um lanche para os dois e deixou tudo arrumadinho nas bandejas. A sala estava linda. Coberta de arranjos florais brancos e rosas. No meio da sala uma tela com um projetor para passar alguma apresentação.

Ela chegou. Abriu o portão da garagem, estacionou o carro. Abaixou-se para conversar com o cachorro e logo notou que tinha algo diferente. Ao abrir a porta da sala, teve uma grande surpresa. Uma música começou a tocar, era diferente romântica, mas ao mesmo tempo, dançante. Não viu ninguém na sala. Não chamou. Quando ia para o quarto, o marido veio ao seu encontro. Ela o abraçou, e falou sorrindo: O que é isso? Festa da primavera? Tantas flores. Ele não respondeu, acenou com uma das mãos e ela sentou-se ao seu lado para assistir a apresentação. Era uma apresentação curta. Onde vários casais dançavam, bailavam. Ao terminar a apresentação ele falou, estendendo-lhe a mão. Vamos dançar? Ela sorriu meio sem jeito e super emocionada. Podemos tentar. E começou a acompanhá-lo nos movimentos da música que continuava bem no fundo. Ele a abraçou e a beijou e falou ao seu ouvido. Eu te amo.

Ela ficou muito emocionada e lágrimas escorreram pelas faces. Dançaram muito, esqueceram-se do tempo. Mais tarde lancharam. E depois de tamanha descontração, ela muito emocionada disse-lhe: Jamais vou esquecer estes momentos, sua declaração. Ouvir este “Eu te amo”, e ver que você se preocupa sempre em me fazer feliz, me ajudaram a ver como sou egoísta em meu amor. Mais saiba que o amo também.

(Eu penso que essas três palavras mágicas podem salvar muitos relacionamentos de amor, não só entre casais, mas entre pais e filhos enfim, vou agora correndo para casa neste fim de tarde de primavera gritar para o moleque desdentado que me espera sorrindo. Hoje vou abraçá-lo bem forte, fazer cócegas e dizer-lhe EU TE AMO!)