Anna
Era uma vez, uma mulher diferente. Não tão incomum assim, mas diferente por ser rara. Alguém digna de admiração. Bonita, independente, determinada, inteligente, sensível, engraçada... E, acima de tudo, feliz. Anna era uma jornalista competente, apaixonada pelo que faz. Podia passar horas fazendo matérias em seu laptop, dias viajando de canto a canto para colher informações, e até anos - em outras cidades que não a sua de origem - para aperfeiçoar seu currículo. Figura incansável. Seu ardor pelo viver contagiava os outros ao seu redor. Seu brilho ofuscava a mediocridade.
Anna tinha apenas uma carência em sua vida: amor. Tinha amigas maravilhosas, que eram praticamente sua família desde que passou a morar sozinha e uma família prestativa, que a admirava e estava sempre disposta a apoiá-la quando precisasse. Mas sentia-se só. Ela queria mais. Queria alguém para dormir abraçada nas noites de frio e para compartilhar todos os seus momentos, felizes ou tristes, ao lado.
Sabia que os anos estavam passando, e isso a aterrorizava cada vez mais. Às vezes, desejava voltar à infância para não precisar preocupar-se com questões como essa.
Ela não era convencida, mas sabia o seu valor. E justamente por isso não entendia porque não conseguia achar um homem que julgasse seu "merecedor". Irritava-se às vezes por não achar alguém interessante, que realmente mexesse com ela. Já estava enjoada de encontrar sempre as mesmas pessoas, nos mesmos lugares, quando saia com as amigas. Todos pareciam produtos da mesma loja, às vezes com embalagens diferentes, mas sempre com o mesmo código de barra. E os homens que conseguiam essa proeza, geralmente eram comprometidos, gays ou simplesmente não gostavam dela (quem sabe por medo de se comprometer).
O que poderia haver de errado com ela? Será que ser boa demais e competente é ruim? Ou será que o problema está com os homens que sempre se acomodaram, por saber que o mundo machista está a seu favor, e agora se vêem perdidos com a ascensão das mulheres?
Essa é a pergunta diária não apenas de Anna, mas todas as mulheres contemporâneas, que sentem-se coagidas pelo preço da sua ascensão econômica, intelectual e liberdade sexual. E, apesar de não saberem a resposta, elas só têm uma certeza: não vão desistir das suas conquistas para se submeter a homem nenhum. O homem ideal e aquele que se adequa e respeita a mulher admirável. Elas sabem que seus pais não investiram caro no seu crescimento para elas serem apenas mais um clichê. Essas são as mulheres notáveis.
Esse tipo de história já existe há muito tempo nos países desenvolvidos, e agora está cada vez mais presente entre a classe média do Brasil. E junto a outros contos, assim é constituída a visão da nossa sociedade atual. Triste? Não sei... Diria apenas uma coisa: real.
ago 2005