A PARÁBOLA DOS TALENTOS

“ A todo que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece ter.”
                                           Mateus, 25:29

Certa vez um multimilionário publicou num jornal de grande circulação diária um es-tranho anúncio: precisa-se de um homem que saiba gastar dinheiro. Enviar currículos para o Sr. M...., na rua X, nº ......, historiando as experiências que já teve nesse trabalho.
Como é óbvio, milhares de candidatos, de todas as idades e procedências se apresentaram. Estelionatários, estroinas, pródigos, bon vivants, playboys de todos os tipos e muitas, muitas mulheres, pois é de domínio público que ninguém, melhor que elas, sabem gastar dinheiro.
Todavia, depois de uma rígida seleção, foi escolhido um pródigo jovem que já havia solapado duas grandes fortunas, a que o pai lhe deixara, e depois uma herança de um tio rico, que também lhe caíra nas mãos.
”Eu já fui um homem muito pobre e era muito feliz. Hoje eu sou um homem muito rico, mas me sinto muito infeliz” disse o milionário. “Cheguei à conclusão que o dinheiro não me traz felicidade, por isso quero livrar-me dele. Seu trabalho será gastar toda a fortuna que eu vou lhe mostrar. Não importa como você vai fazer, mas tem que fazer desaparecer esse dinheiro até o último tostão. Não receberá nenhum centavo enquanto todo esse dinheiro não desaparecer e eu ficar pobre novamente. Já reservei uma parte da minha fortuna e ela será sua depois de feito o serviço. Mas você tem que gastar o dinheiro. Não vale rasgar, nem doar, queimar ou jogar nenhuma nota fora.”
E mostrou ao rapaz um quarto atopetado de dinheiro, cheio até o teto, com notas de cem reais empacotadas em maços de dez mil cada um. Havia milhões e milhões de reais ali.
“Que trabalho mais estranho,” pensou o rapaz. Mas torrar grana era com ele mesmo. Por isso aceitou a incumbência com o maior prazer. A primeira coisa que fez foi comprar um caminhão baú e colocar nele todo o dinheiro. Depois saiu gastando a rodo. Comprou um avião e um iate e saiu pelo mundo afora, visitando os melhores balneários, se hospedando nos melhores hotéis, namorando as mulheres mais bonitas. Comprou vários carros de luxo, que usava apenas um dia e no dia seguinte doava para amigos e parentes. Almoçou e jantou nos restaurantes mais finos, levando uma multidão de parentes e amigos para comer de graça. Comprou casas, apartamentos e terras, que doou para os sem teto e para os sem terra. Promoveu suntuosos banquetes, para os quais convidou todos os mendigos da cidade. Presenteou, com presentes caros, milhares de conhecidos e desconhecidos.
Tanto fez que conseguiu gastar toda aquela montanha de dinheiro. Por fim, depois de gastar o último real na compra de um sorvete, compareceu ao escritório do milionário para receber a paga pelo trabalho. Mas o que encontrou foi um sujeito sentado sobre uma montanha de dinheiro três vezes maior do que aquela que ele gastara. E o homem estava possesso.
“ Não adiantou você gastar todo aquele dinheiro. Eu estou agora três vezes mais rico do que antes. Por isso não vou lhe dar nenhum centavo.”
“Mas como isso aconteceu?”, perguntou o jovem gastador. “Eu torrei todo aquele di-nheiro.”
O contador do milionário explicou: “Um milionário excêntrico andou pelo país gastando uma imensa fortuna. Comprou vários carros de luxo nas lojas do Sr. M, adquiriu diversos imóveis construídos pela construtora do Sr. M, almoçou e jantou, pagando a conta para centenas de pessoas, nos restaurantes do Sr. M, comprou até um iate no estaleiro do Sr. M e um avião feito em sua fábrica. De modo que não adiantou nada você ter gasto toda aquela fortuna. Agora temos outra três vezes maior. Você vai ter que ralar mais duro ainda para gastar tudo de novo se quiser receber o seu salário.”
E assim foi. O pródigo rapaz recomeçou uma e outras vezes o serviço de gastar dinheiro, até que ele mesmo começou a achar aquilo muito enfadonho. Pois a cada montanha de dinheiro que o jovem estroina gastava, um monte de dinheiro muitas vezes maior aparecia para ele gastar.
Para terminar, vamos dizer que o Sr. M. acumulou uma fortuna incalculável, e o jovem estroina morreu sem nunca receber o seu pagamento.







João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 23/01/2011
Código do texto: T2747932
Classificação de conteúdo: seguro