Não tenho tempo...
Raul trabalhava muito para dar conforto a sua família e realizar seus sonhos, conseguiu isso trabalhando dia e noite.
A vida dele começa ao se apaixonar pela moça mais bonita da escola e ela correspondeu.
-Esse cara tem sorte, comentava os amigos.
Ele também achava, era o namoro perfeito descobriram que foram feitos um para o outro, mas como todos os relacionamentos tinham um problema.
-Meu amor os meus pais querem que jante lá em casa sábado.
-Não tenho tempo, preciso passar no concurso para que nosso casamento seja o sonhado.
Passado alguns dias...
-Querido vai ter um piquenique e nos convidaram.
-Não tenho tempo, vou trabalhar hoje.
E assim continuou até se casarem. Eles se entendiam bem e estavam muito felizes, mas o problema continuava.
-Hoje vou saber o sexo do nosso bebezinho, vamos comigo.
-Não tenho tempo, preciso fazer hora extra para comprar o nosso carro.
E assim continuou até o bebezinho se tornar um belo menino.
-Hoje nosso filho vai fazer a sua primeira apresentação na escola e você me prometeu...
-Lamento, não tenho tempo...
Quanto mais o tempo passava menos tempo ele tinha, os dias voavam, estava satisfeito a família tinha o conforto almejado faltava pouco para concretizar todos seus planos. O pouco tempo que passava com a família era agradável, bom pai e bom marido, amoroso e dedicado. A esposa esperava o dia que usufruiriam juntos o resultado do trabalho, fazia o possível para entendê-lo, apoiá-lo e economizar para que os planos se concretizassem o mais rápido possível. Os anos têm asa e quando eles viram o filho já era pai, Raul não tinha tempo para os netos assim como não teve para o filho, no entanto a aposentadoria estava próxima e a esposa já fazia planos para o futuro, os netos estavam contentes por saber que o avô amoroso teria mais tempo para eles. Quando faltavam seis meses para se aposentar e curtir a família amada um acidente de carro ceifou a vida da mulher e do filho, Raul mais uma vez ocupado resolvendo detalhes para um enterro decente, não teve tempo para pensar. Um amigo veio consolá-lo dizendo que ele recordasse os momentos que passaram juntos... Raul não conseguiu ouvir o que o amigo continuava a falar, a única voz que ouvia era uma voz intima que dizia: O que há para recordar? Não tenho tempo para... Não tenho tempo agora...Tenho tudo que almejei, mas não o que amo, de que vale ter tudo na vida se não poderei usufruir com quem amo, pra que...
-Mamãe o vovô esta pálido, ele também vai morrer?
-Não querido, ele precisa só descansar.
A nora falou com ele, não parecia ouvir. O neto apavorado abraçou o avô.
-Não morra, por favor...
Raul começou a chorar como uma criança, abraçado com o neto e segurando firme a mão da nora como uma criança que segura à mão da mãe quando está com medo. Lamentou as decisões que tomou e as coisas que perdeu, mas era tarde demais a esposa muito amada tinha morrido ser que ele tivesse tido tempo de dizer o que sentia e de irem juntos a Gramado para a lua de mel tão adiada.
Prezado leitor:
Não tenho tempo é uma questão de percepção sempre temos tempo para o que nos interessa ou é importante do nosso ponto de vista. Escuto muitas pessoas dizerem aos seus parentes que não tiveram tempo para ligar, mas tiveram tempo para ir comer uma pizza, pois ninguém é de ferro. Antes o telefone era fixo hoje é móvel, se pode falar com quem se ama até num coletivo na ida ou na volta do trabalho. O problema não é o tempo são as prioridades, só se percebe que deu prioridade às coisas erradas quando é tarde demais. A cortina se abre e a cena do primeiro ao último ato é: Eu devia ter dito... Eu devia ter feito...Eu devia ter ido...