Ela abraçou o mar

Ela estava sentada ás sombras das árvores, não sabia mais o que era, seu coração havia se tornado um imenso buraco vazio, nada restou daquela garota feliz e realizada que foi um dia...o espelho também dizia isso: as olheiras eram fundas, os olhos tristes e apagados, a maquiagem borrada nos olhos a fazia parecer uma bruxa. Os cabelos antes longos e loiros, agora era curto e repicado vermelho. Estava cada dia mais magra, abatida e infeliz. Sabia que dentro dela algo tinha morrido para sempre e ela sabia quando começou a morrer, como uma planta que seca, ela foi secando aos poucos, sendo dilacerada pelas lágrimas, pela dor e o desespero.

Á noite caía e ela voltava sem ânimo para casa, abria o armário e só havia miojo de galinha caipira e uma sminorf ice e ela comia automaticamente sem fome, sem gostar, parecia um robô. Assistia Tv até tarde porque sofria de insônia, as vezes sonhava, mas muitas vezes não. Acordava cansada, exausta, ia para o banho, se lavava de má vontade e escolhia qualquer roupa para trabalhar.

Agora não importava se era janeiro, fevereiro, abril, maio, setembro, outubro, dezembro. Se chovia, se fazia calor, se fazia frio, o que importava, algo dentro dela tinha mudado e seu coração batia oco dentro do seu peito.

Ela olhava-se no espelho e queria achar um culpado: ela mesma? ele? a vida? Deus? as pessoas? as circustâncias? o destino? seu carma do passado? as cartas de tarô? era inútil achar um culpado, sentia dentro de si que a culpada ela era mesma. Nunca era a pessoa que ela imaginou ser, não passava de um fracasso como mulher, enfim sua vida era uma grande lacuna, um livro com páginas vazias que ela não fazia mais questão de escrever...

Ela sabia o quanto tinha se machucado, o quanto aquela dor no seu coração a fazia sofrer..aonde tinha errado? tudo que fazia não dava certo. Trabalho sem satisfação, dívidas, tristeza, angústia, coisas mal resolvidas, traição e dor. Parecia estar envenenada e todos os dias aquele veneno saía do seu coração e contaminava sua alma e a deixava como uma zumbi, uma semi morta escrava da infelicidade.

Nem sabia que a culpa era sua, mas não se perdoava. Havia perdido tudo que mais amava na vida, não sobrando nada, ao não ser dor e solidão. Envergonhava-se do seu amor, das suas escolhas, da sua vida, de tudo.

Ela tinha 28 anos e não era uma mulher, era uma garotinha medrosa e insegura, ela tinha medo de viver, medo de apostar, medo de arriscar, medo de tudo, medo de sí mesma. Ela acreditava no amor, nas pessoas, em Deus, mas quando seu castelo ruíu ela não era tão forte quanto imaginava ser, ela era uma criatura fraca, amargurada e muito infeliz.

Então, ela comprou uma passagem para Ubatuba e foi-se viver. Chegou na pousada, ao invés de colocar um biquini naquele calor infernal, colocou o vestido mais lindo que tinha visto. Ele era branco, de renda, bordado, colocou as sapatilhas transparente e se pintou, penteou seus cabelos curtinhos e colocou uma tiara com uma flor branca. Chegou a praia, subiu as pedras e observou o mar, aquilo trazia uma paz infinita a sua alma atribulada e vazia. Sentou-se, lembrou-se de como foi feliz no passado e aquilo a magoou profundamente, começou a chorar de soluçar: Meu Deus onde ela tinha se perdido? que lugar estava a sua alma? aonde tinha errado tanto para ser castigada com aquela tristeza maldita que a chicoteava? então lembrou-se do seu riso, da sua força, de como era diferente e lembrou-se do seu amor..ele já não a amava como era antes e não sabia porque estava com ela. Se ele não sabia, ela muito menos e então se lembrou da sua dor, do senhor da sua decepção, daquela ilusão que a matou e então a sua vida passou com um filme em sua cabeça. Levantou-se e decidiu ser feliz dali para frente, olhou o céu pediu perdão a Deus e disse consigo, estou indo ao seu encontro, já que nesta vida você não me encontrou, então abriu os braços, colocou um pé na frente da pedra sob o mar e as lágrimas caíram em enxurrada e se jogou no mar.

Estava morta para o mundo e viva para si mesma.

Anna Azevedo
Enviado por Anna Azevedo em 20/01/2011
Código do texto: T2741276
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