O MENINO ZÉ
Lêda Torre
Pelas ruas da cidade, debaixo das pontes, mesmo enfrentando aquele rude frio da grande capital, o menino Zé aguentava o tranco. Ano após anos, nenhuma autoridade fazia alguma coisa para mudar aquela situação. Mesmo assim, o menino Zé, continuava a sua vida. Nada mais era novidade para ele: todos os dias, cresceu vendo bandido sendo preso pela polícia, aqueles menores fumando de tudo, maconha, crack, cigarro pau ronca, e tanta coisa, que nada era novo para ele.
Seus pais foram para sua terra natal, o nordeste Brasileiro, onde de lá nunca deveriam ter vindo. Pior do que a seca, é passar fome de tudo: de amor, de emprego, de humanidade, de saneamento básico , de mais educação, de tudo um pouco mais. Eles moravam na favela São Benedito do Oitão. Perto da favela da Rocinha. As pessoas perderam o senso de amor ao próximo, ali ninguém é de ninguém. Esse menino não quisera voltar com seus pais para o Ceará, para a sua cidade, onde a água era ouro. Conseguira fugir do ônibus que levava sua família para casa, e ele escapuliu, e voltou para o Rio de Janeiro, terra que Zé dizia ser dono dela, o Rio de Janeiro era sua paixão. Costumava perambular perto das praias, era feliz ver o mar, seu grande companheiro. E pensava quando crescesse, casar com uma sereia ou com uma daquelas mulatas do carnaval.
Meio a esse universo, Zé não usava nenhuma droga, ele queria apenas ser livre, ainda que lhe custasse todas aquelas dificuldades que ele passava na rua. Roupinhas meio trapos, cabelos desalinhados, um pouco fedido, unhas grandes, mas tudo bem, ele nem ligava...até que uma senhora gostava de dar algumas roupas para o menino Zé. Sua velha mochila guardava algumas peças, e um lençol, para onde desse o sono, ali mesmo debaixo de qualquer viaduto ele fazia sua cama. Era a sua vida. Fazia amizade com todos, e cativava as pessoas, principalmente os menores do tráfico, ele tinha sorte de ninguém mexer com ele, era abençoado por Deus. Só sendo.
Muitas vezes, pés no chão, com seus doze anos, meio rapazinho, até bonitinho, Zé não se importava se ele estava longe da sua terra, ou da sua família, se não havia natal para ele, o que contava mesmo, era o carnaval do Rio de Janeiro, nessa época o menino não perdia os ensaios da sua escola de samba, a Mangueira, a preferida. E todo ano, ele dava um jeito de chegar até a avenida para ver aquelas mulatas belíssimas sambando, como ninguém. Eita que paixão por aquela cidade! ninguém conseguira convencer o garoto a voltar pra sua terra natal. O Rio de Janeiro era sua.
Um dia, o menino Zé, viu que haveria de trabalhar. Mas como, ele desejava também ir a uma escola, procurou aquela senhora amiga sua, dona Guida Fontes, moradora dali perto da Pça. XV, lhe ofereceu levá-lo a uma escola, afinal, seus filhos não se opunham a ser amiga do menino Zé. Ele tinha vontade de crescer, não queria aquela vida de rua, mais. Dona Guida chamou-o para morar com ela para ajudar-lhe apenas cuidando de engraxar os sapatos da família e poderia até engraxar pra fora, ela jamais o impediria de ter sua liberdade. E foi. O guri começou a estudar e além de ler bastante, seu lazer era escrever poesias. De tudo ele fazia versos. Uma simples borboleta era motivo de fazer versos, as pessoas o inspiravam, as crianças, o tudo que ele passou, era possível descobrir em cada coisa, a poesia. Duas coisas na vida do Zé, eram suas metas: ser poeta e advogado.
Todos gostavam do pequeno rapaz, um menino bom, fazia os mandados da casa, regava o jardim , fazia pequenas compras, era muito honesto. Nem mesmo as agruras da vida, o fato dele ter sobrevivido aos insalubres reveses da rua, nada o fez perder as suas referências e valores. Engraxava nas horas vagas, até contribuía com pequenas despesas da casa, apesar de ninguém da família aceitar, mas era uma questão de honra para o Zé, poder contribuir com as despesas dali. Foi o jeito deixarem o Zé colaborar.
O menino cresceu, ficou um rapaz forte e muito bonito, formou-se em Direito, continuou a escrever nas horas vagas, fez concurso para ser delegado federal, e foi nomeado para trabalhar em sua cidade natal, a cidade de nome indígena Tatuí, que por sinal crescia assustadoramente, porque ali fora descoberto um poço de petróleo e o progresso chegara de forma muito rápida, cujo volume de pessoas chegavam ali para trabalhar. A essa altura sua família já estava bem melhor de situação financeira, e ele procurou seus pais, para agora ajudá-los.
O menino Zé, agora doutor, e escritor bem conhecido, quase não reconhecera sua cidade, mas conseguira encontrar seus pais e seus irmãos, procurou ajudá-los a todos, e conheceu a linda moça, a mais bela da cidade, de nome Sofia, casaram-se, e foram felizes para sempre. Tiveram filhos, seguiu as duas carreiras, a de delegado, e a de maior paixão, escritor. Ainda bem que esse Zé da vida, não se perdeu. Seria muito bom se a vida fosse sempre assim.
___________São Luis, 17/01/2011_____________
Lêda Torre
Pelas ruas da cidade, debaixo das pontes, mesmo enfrentando aquele rude frio da grande capital, o menino Zé aguentava o tranco. Ano após anos, nenhuma autoridade fazia alguma coisa para mudar aquela situação. Mesmo assim, o menino Zé, continuava a sua vida. Nada mais era novidade para ele: todos os dias, cresceu vendo bandido sendo preso pela polícia, aqueles menores fumando de tudo, maconha, crack, cigarro pau ronca, e tanta coisa, que nada era novo para ele.
Seus pais foram para sua terra natal, o nordeste Brasileiro, onde de lá nunca deveriam ter vindo. Pior do que a seca, é passar fome de tudo: de amor, de emprego, de humanidade, de saneamento básico , de mais educação, de tudo um pouco mais. Eles moravam na favela São Benedito do Oitão. Perto da favela da Rocinha. As pessoas perderam o senso de amor ao próximo, ali ninguém é de ninguém. Esse menino não quisera voltar com seus pais para o Ceará, para a sua cidade, onde a água era ouro. Conseguira fugir do ônibus que levava sua família para casa, e ele escapuliu, e voltou para o Rio de Janeiro, terra que Zé dizia ser dono dela, o Rio de Janeiro era sua paixão. Costumava perambular perto das praias, era feliz ver o mar, seu grande companheiro. E pensava quando crescesse, casar com uma sereia ou com uma daquelas mulatas do carnaval.
Meio a esse universo, Zé não usava nenhuma droga, ele queria apenas ser livre, ainda que lhe custasse todas aquelas dificuldades que ele passava na rua. Roupinhas meio trapos, cabelos desalinhados, um pouco fedido, unhas grandes, mas tudo bem, ele nem ligava...até que uma senhora gostava de dar algumas roupas para o menino Zé. Sua velha mochila guardava algumas peças, e um lençol, para onde desse o sono, ali mesmo debaixo de qualquer viaduto ele fazia sua cama. Era a sua vida. Fazia amizade com todos, e cativava as pessoas, principalmente os menores do tráfico, ele tinha sorte de ninguém mexer com ele, era abençoado por Deus. Só sendo.
Muitas vezes, pés no chão, com seus doze anos, meio rapazinho, até bonitinho, Zé não se importava se ele estava longe da sua terra, ou da sua família, se não havia natal para ele, o que contava mesmo, era o carnaval do Rio de Janeiro, nessa época o menino não perdia os ensaios da sua escola de samba, a Mangueira, a preferida. E todo ano, ele dava um jeito de chegar até a avenida para ver aquelas mulatas belíssimas sambando, como ninguém. Eita que paixão por aquela cidade! ninguém conseguira convencer o garoto a voltar pra sua terra natal. O Rio de Janeiro era sua.
Um dia, o menino Zé, viu que haveria de trabalhar. Mas como, ele desejava também ir a uma escola, procurou aquela senhora amiga sua, dona Guida Fontes, moradora dali perto da Pça. XV, lhe ofereceu levá-lo a uma escola, afinal, seus filhos não se opunham a ser amiga do menino Zé. Ele tinha vontade de crescer, não queria aquela vida de rua, mais. Dona Guida chamou-o para morar com ela para ajudar-lhe apenas cuidando de engraxar os sapatos da família e poderia até engraxar pra fora, ela jamais o impediria de ter sua liberdade. E foi. O guri começou a estudar e além de ler bastante, seu lazer era escrever poesias. De tudo ele fazia versos. Uma simples borboleta era motivo de fazer versos, as pessoas o inspiravam, as crianças, o tudo que ele passou, era possível descobrir em cada coisa, a poesia. Duas coisas na vida do Zé, eram suas metas: ser poeta e advogado.
Todos gostavam do pequeno rapaz, um menino bom, fazia os mandados da casa, regava o jardim , fazia pequenas compras, era muito honesto. Nem mesmo as agruras da vida, o fato dele ter sobrevivido aos insalubres reveses da rua, nada o fez perder as suas referências e valores. Engraxava nas horas vagas, até contribuía com pequenas despesas da casa, apesar de ninguém da família aceitar, mas era uma questão de honra para o Zé, poder contribuir com as despesas dali. Foi o jeito deixarem o Zé colaborar.
O menino cresceu, ficou um rapaz forte e muito bonito, formou-se em Direito, continuou a escrever nas horas vagas, fez concurso para ser delegado federal, e foi nomeado para trabalhar em sua cidade natal, a cidade de nome indígena Tatuí, que por sinal crescia assustadoramente, porque ali fora descoberto um poço de petróleo e o progresso chegara de forma muito rápida, cujo volume de pessoas chegavam ali para trabalhar. A essa altura sua família já estava bem melhor de situação financeira, e ele procurou seus pais, para agora ajudá-los.
O menino Zé, agora doutor, e escritor bem conhecido, quase não reconhecera sua cidade, mas conseguira encontrar seus pais e seus irmãos, procurou ajudá-los a todos, e conheceu a linda moça, a mais bela da cidade, de nome Sofia, casaram-se, e foram felizes para sempre. Tiveram filhos, seguiu as duas carreiras, a de delegado, e a de maior paixão, escritor. Ainda bem que esse Zé da vida, não se perdeu. Seria muito bom se a vida fosse sempre assim.
___________São Luis, 17/01/2011_____________