AFOGANDO MÁGOAS
 


 


No final da tarde os amigos se encontram no barzinho, foi chegando gente, emendaram mesas, a cerveja rolando. Falavam abobrinhas, riam do nada... Até que alguém soltou a língua e começou a dizer que precisava descascar o abacaxi, a situação no escritório não estava pra peixe, o diretor só espinafrava. Ele não podia jogar tudo pro alto, dar uma banana, precisava garantir o leite das crianças. E a mulher não entendia, queria viver num eterno romance açucarado, mas é assim mesmo, pimenta nos olhos do outro não arde. Momentos picantes só depois que se livrasse da azeitona da empada, aí é que estava o xis da questão, a maldita azeitona, que se transformou naquele imenso abacaxi. Agora precisava tirar o pé da jaca. Mas estava difícil, todo dia aparecia um novo pepino, o remédio era ir remando contra a maré e tomar cuidado pra não morrer na praia. De nada adiantava ficar puto da vida, roxo de raiva, tinha mais é que andar nos trilhos, fazer o que seu mestre mandava, mesmo que fosse com cara de cachorro que quebrou a tigela. Não via a hora de sua vida voltar ao arroz com feijão de sempre... E levantou o copo encerrando o discurso:
 
- Nada melhor pra afogar as mágoas e sair dessa fria do que essa deliciosa água que passarinho não bebe!
 
Ao que todos concordaram com um brinde.
 
 





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