Chuva, lágrimas, faxina e risos (microconto)

Desacelerou os passos e parou, sentiu o vento forte revolver-lhe os cabelos e as grossas gotas de chuva machucar-lhe a pele.

Olhou para cima deixando que a água caísse forte em seu rosto, levando consigo as lágrimas que persistiam em anuviar-lhe os olhos. A água dos céus e a água do seu coração fundiam-se num só, envolvendo-a por completo.

Ela tremia, tinha frio, mas não se importou.

A chuva lhe invadia por dentro penetrando em cada poro, em cada partícula de seu ser, em seu coração ferido, em suas esperanças destruídas, entrava e transformava tudo em um caudaloso rio que ia se transbordando de si, levando embora todas aquelas dores sentidas e ilusões vividas.

As pessoas de passos apressados e grandes guarda-chuva passavam por ela com olhos curiosos sem entender, o que uma moça fazia parada em meio a uma chuva daquela?

Ao se dar conta do espanto dos transeuntes olhou para si, as roupas completamente molhadas grudavam na pele, os cabelos espalhavam para todos os lados, é tinham mesmo razão de estarem espantados, que figura não estava fazendo ali? Achou graça, deu de ombros e sorriu, sim sorriu e de novo e mais uma vez.

E dessa vez foi ela própria quem ficou espantada. Estava sorrindo!? Justo ela que achou que nunca mais voltaria a sorrir, e agora sorria daquele jeito. Embora de seus olhos ainda saltassem lágrimas. Embora soubesse que muitas ainda iria derramar, mas continuava a sorrir.

A chuva parou.

Afastou os cabelos do rosto, ajuntando-o todo para trás, sentindo-se bem. A chuva a lavara, fizera uma faxina em si, agora estava leve e vazia, docemente vazia, pronta para se reencher novamente, reencher-se de vida, com tudo que ela trazia de melhor, seja bom ou ruim, seja triste ou alegre. Enfim...

Respirou profundamente, sentiu o ar molhado passar com força por suas narinas e ainda meio chorando, meio sorrindo continuou seu caminho.

sutini
Enviado por sutini em 15/01/2011
Reeditado em 15/01/2011
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