Tapetes
Sim. Ela vivia o eufemismo.
Tentava a custo transformar suas idéias insanas,
Mais não havia como, seus desejos lascivos, libidinosos, volupios eram a razão de sua agonia.
Trancava as portas e cerrava as janelas, mais a tal poeirinha insistia em entrar e flutar no ambiente.
Deu logo um jeito de varre-la para baixo do tapete. Colocou-se sobre a poltrona com as mãos a cabeça tentando fugir de si mesma. Doce ilusão, a mais difícil das fugas...
Queria o olhar de um estranho em seu decote, um dedo desconhecido em sua boca...
Ah! como queria... um cheiro de suor alheio no corpo, um devaneio com qualquer um.
Um lugar qualquer que a libertasse, um colo estranho.
Umas línguas a passear lhe o corpo, um sopro ao ouvido.
Um arrepio nos pelos... queria !
Ela queria um momento, avassalador momento... sabor de desejo, de carne, de um mesmo.
Um mesmo sentido para o que não há.
Ela abre a porta e deixa poeira entrar, sem medo sem duvidas.
Ela só queria sentir, qualquer coisa em qualquer lugar, com qualquer um fosse.
E eu a vejo ali, a chacoalhar o tapete em frente ao portão.
Eu a vejo ali, sozinha... as vezes parece sua solidão é minha.
*Escrito em 2007 ...