Analogias enquanto a felicidade dorme ao lado.
Tenho todas as vozes caladas pela segunda noite do ano, passa em meus pensamentos um desfile de cavalos que trotam lentamente, batendo suas patas em um tique taque contínuo no asfalto abandonado, fazendo barulho no teto do inferno e despertando o sono de quem repousa em silêncio. Passos em meu telhado são como rosas que secam antes de um sorriso, como uma sensação de ansiedade que nunca termina no fato em si. Indecorosa em seus atos ousados, a satisfação desenha em seu quadro preterioso a cena triste de dois corpos que te possuem. Rasgo meus pensamentos arqueados pelo conservadorismo procurando não levar essa vida para meus sentimentos, em um passado que treme como um fantasma no frio cortante de um paraíso esquecido pelo liquido ardente e seminal. Os latidos distantes falam comigo, dialogando entre a perdição e a renuncia, esses cães latem diretamente das regiões frias do submundo, babando enxofre em suas próprias patas e cegando meus pensamentos em decomposição. Nas horas silenciosas em que meu corpo se desfaz da vida, perco e me encontro nas lembranças esquecidas dos tempos de criança e passo como a morte através dos espaços vazios em que a falta de vida avisa que qualquer coisa pode entrar. Preso pelos braços e o pescoço agonizando em uma coleira de palavras pejorativas, todo instante se torna eterno nos passos dos transeuntes da madrugada viva de nossa cidade de pedra. Tento dormir sem ao menos me lembrar de outros nomes, na certeza da dúvida inconstante em que as palavras não dizem nada e toda volúpia se torna cansaço e morte. Eu rompo as barreiras do indizível e procuro no barulho cronometrado das turbinas de um avião em queda, o tempo necessário para desembarcar meus próprios olhos e adormecer ao seu lado. Ela toca minhas paredes e rasteja através do meu corpo, cai enrolada como um feto de um útero ensangüentado no chão molhado dos banhos produzidos pelo sexo, arremessada através do líquido seu corpo desaparece entre a espuma da água acumulada e frieza escorregadia da cerâmica domiciliar. Ela agora mora no esgoto e perdida na incerteza de tudo, está sendo sufocada pelo próprio lixo de seus caminhos vazios enquanto ouço a chuva anunciando o fim de todas as coisas lá fora.