A CONTISTA QUE VIROU CONTO

A CONTISTA QUE VIROU CONTO

Era uma vez, uma pobre funcionária pública, que vivia inventando estórias.. cansada de planejamentos, projetos, cursos e métodos teóricos, que não lhe rendia nada; a não ser muita inveja. Pensavam que com todas aquelas idéias que tinha,ela deveria ser bem gratificada, mas ela nunca ganhou nada, trabalhava por amor. Prestigio e fama para pessoas inteligentes, é insignificante, o que ela queria mesmo era grana, tutu, money e sair viajando pelo mundo afora... e como não tinha dinheiro, teria que viajar pelo pensamento ou nas asas da leitura, mas, não gostava das drogas das publicações de escritores afetados por regionalismos, política e dogmas religiosos; queria algo surrealista, transcendente com efeito gratificante para suas emoções. Então, resolveu escrever suas próprias estórias, em vez de ficar dando palpites nas estórias dos outros. Eles não iriam reeditar os seus livros somente por causa da opinião dela.

A contista começou a escrever exatamente o que ela criticava e o que as pessoas estavam cansadas de saber. E não é que as pessoas gostaram?! E ela gostou?! Não se sabe se gostou foi do gosto das pessoas...

Todo escritor cai na mesma armadilha de agradar? Receber aplausos? Tinha muitas idéias inéditas, pelo ou menos pensava que eram inéditas, tinha que publicá-las para saber. Mas, quando ia concluir seu pensamento, sua própria mente, ou seria a mente das pessoas na sua mente? Não permitiam.

Diziam, as mentes das pessoas em sua mente: queridinha, isso não fica bem pra você, ta? Florzinha, não machuque nossas alminhas. Ou então: que revolução é essa? Não está satisfeita com a nossa tecnologia? Você quer ser exportada ou se conformar com a nossa cultura? De onde vem tantos pensamentos loucos? Louca! Louca! Louca!

As mentes das pessoas diziam isso dela e se persistisse iriam acionar as terríveis sociedades do controle; família, religião; estado e cultura e a pior de todas: as regras da ortografia portuguesa. A cultura, era a mais fraquinha dos controles, e nossa contista tinha livre acesso a cultura de todos os povos; compreendendo e não sendo compreendida por ninguém, quando lançava novos paradigmas de vida, conceitos sobre religião e idéias de inovação tecnológica em geral. Por exemplo, na humanística... como seria maravilhoso, se tivéssemos aquele cachorrinho lindo, que pudesse falar tudo o que nos gostamos de ouvir, na hora que precisássemos ouvir. Era só apertar a mensagem certa, ou melhor, selecionar o software: diversão, consolação, animo, coragem, alegria... e pronto. Na área da saúde, nem se fala, porque as pessoas não inventam nada direito... tira a dor de um lugar e coloca em outro.

Mas, enquanto estava pensando..

Alguém lia o seu conto, e outro escrevia, outro conforme o que também pensava interpretava e as letras eram semeadas... em alguns morriam e não eram lembradas, em outros ficavam sufocadas, em outros não acontecia nada e em outros eram cultivadas, reelaboradas e tinham suas vidas transformadas.

Rose Silva

Rosinalva Machado Silva Bibliotecária
Enviado por Rosinalva Machado Silva Bibliotecária em 10/01/2011
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