VIAGEM FATÍDICA...
Ela era uma jovem de 18 anos de idade, bonita, de família rica, estudante universitária; uma moça inteligente, seu nome: Diná.
Tinha um colega, de outra cidade, que residia numa "república", o qual a convidara para ouvir um pouco de música e beber alguma coisa. Não havia ninguém na casa, visto que os outros moradores estavam na universidade.
Roberto, este era o nome do rapaz, pôs um disco para tocar e ofereceu-lhe uma bebia.
Tomado metade do copo, disse ele, displicente:
- Então, que achou? Contém LSD...
LSD! lembrou-se das histórias que lera em revistas e que falavam em "estar fora deste mundo" e, no entanto, não ficou impressionada nem inquieta.
Estaria Roberto gracejando?
Algum tempo depois, saíram à rua, em direção ao carro. Antes de alcançá-lo começou a sentir-se tonta, sendo que os seus joelhos tremiam.
- Você de fato misturou alguma coisa naquela bebida, não é mesmo? - perguntou a Roberto que não respondeu.
Naquele momento ele, que também tomara a droga, começava a sentir seu efeito;tinha vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.
- Má sorte a minha, pensou ela, achar-se ali em situação difícil. Ele pôs o braço em volta dela e disse:
- Eu não tencionava fazer-lhe isto...
Então, resolveram retornar ao interior da casa e a alucinação continuou.
- Diluamos isto com água, disse Roberto.
Foram à cozinha e beberam muitos copos de água, sem resultado. Diná tinha a impressão de ter mão de borracha. O copo caiu e espatifou-se na pia...
Correu para fora; era dia ainda. A grama e as árvores pareciam de faiscante cor de ouro, e isso não era belo, porém aterrador. Já se achava a mil quilômetros da realidade e se sentia cada vez mais distante. Quis telefonar a alguém, mas não conseguia.
- Temos que conseguir socorro! Disse a Roberto e pôs-se a correr à rua.
Parecia-lhe impossível que outras pessoas estivessem em seus lares, preparando o jantar, assistindo televisão, voltadas às tarefas comuns, enquanto ela flutuava, confusa, num mundo irreal. Coisa terrível se dava com ela e ninguém suspeitava.
Roberto convenceu-a para entrar em casa, dizendo:
- Vamos morrer juntos! Não tenho medo de morrer, falou-lhe.
Não era verdade, pois tinha muito medo.
Tinham a respiração difícil e, conseqüentemente, sobreveio-lhes o pânico.
Parecia-lhes estarem longe de qualquer socorro e, Roberto, de quando em quando, olhava para o relógio, que era para continuar em contato com a realidade.
Ela tentou ficar junto dele, mas tinha a impressão de se acharem cada vez mais distanciados um do outro.
Relatou ele que, a princípio, se lhe afigurava que um urso enorme o segurava, aquecendo-o e depois o soltava, deixando-o tremendo de frio.
Depois de algum tempo, retornou à cozinha, porém o que Diná viu foi um velho aleijado, olhando de soslaio com um sorriso amarelo.
Ela afastou-se um pouco para trás e viu seu rosto num espelho; rosto velho e encarquilhado, emoldurado em cabelos brancos. Logo lhe sobreveio um pesadelo e viu-se a correr através de longo corredor escuro a gritar:
- Mamãe! Mamãe!, sem receber resposta.
Mais tarde, ambos estavam estirados no chão da cozinha e Roberto disse:
- Isto é um inferno, não é mesmo? Ela concordou. Não conseguiam safar-se daquilo.
Algum tempo depois, Roberto foi à geladeira e começou a devorar sôfregamente tudo o que encontrava.
Atirou ovos contra Diná, um a um.
Depois, ela sentiu o cabelo empastado de clara e viu seu vestido estragado com manchas secas de ovo.
Quando dois colegas de Roberto chegaram, encontraram-nos semi-inconscientes. Ela amontoada num canto da cozinha. Ele estirado no assoalho do quarto.
Confusos e alarmados telefonaram chamando uma ambulância.
A corrida foi rápida. Cores... Luzes... Onde estou? - pensou ela. Em certo sentido, apercebia-se do seu ambiente, na ambulância. Tinha, todavia, a impressão de estar sonhando.
O pessoal do hospital os encheu de perguntas.
Atendidos, ficaram em observação
Após algum tempo, viu seu pai atravessando o corredor, parecendo-lhe muito idoso e cansado. Ela queria que o pesadelo viesse a termo agora.
Depois, no carro, rumo à sua residência, passou a mão pelo cabelo empastado de ovo e viu seu vestido com estrias encardidas.
Seu pai olhou-a e disse, compungido:
- Que foi que lhe fiz?!...
Não pôde responder. Ele pegou-a pelo braço e, após descerem do carro, conduziu-a para o edifício onde residiam.
Na manhã seguinte, encontrou-se com Roberto no restaurante universitário e estavam um tanto constrangidos. Telefonaram a alguns amigos, dizendo-lhes o que acontecera.
Uma amiga disse-lhe, depois:
- Fiquei com os olhos arregalados ao saber da dose tomada!
A "viagem" não terminara ainda.
Cerca de uma semana após, em sua casa, foi tomada de uma sensação estranha e extremamente esquisita. Tinha a impressão de que se despedaçava. Verdadeiro pânico tomou conta dela e o mundo lhe parecia irreal. As situações e pessoas comuns lhe pareciam, agora, ameaçadoras e sinistras.
Mais tarde, falando com um médico entendeu que estava se processando a reação.
Lia tudo que encontrasse acerca do LSD e seus efeitos, concluindo, afinal, que aquelas sensações estranhas eram causadas pela droga. Um dos artigos que lera, terminava dizendo que os que uma vez provassem a droga, nunca mais seriam os mesmos.
Chorava até adormecer...
A muito custo conseguiu vencer essa impressão estranha.
Certo tempo depois, declarou, assustada, ainda:
- Parece que o fato mais desesperador é o de que, nesses estados, o pensamento continua a funcionar...
E, diante dessa epopéia, podemos indagar:
- Valerá a pena iniciar uma "viagem" como esta?!