Confirmação

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Então, abria o guarda-roupa; pensava... Olhava a camisa mais engomada, admirava. A calça - que melhor servia - pegava e a juntava com a meia que, nesse contexto de organização, mais combinava. Colocava, de forma detalhada: Camisa, calça, meia. A cama de solteiro fica cheia e o lençol, azul, quase não aparecia; na arrumada bagunça confundia; escondia-se.

Ensaiava sair. Tomava banho com cuidado. Cada parte do seu corpo era ensaboada; era lavada (enfim lavada). Então, estava pronto! Restava se secar e, no leve movimento, pensava... Ah! Como pensava!

Andava de vagar com medo de escorregar. Esse cuidado externava o banheiro, pois cruzava o corredor com maior esmero (Parecia admirá-lo). Enfim chegava ao quarto (o seu lugar de descanso). Pegava a roupa com maior encanto e a vestia. O brilho em seu olhar transcendia. Sim! Era magia! Apenas magia.

Essa rotina nunca foi desfeita. Suas ações mais pareciam uma receita. Sempre os mesmos cuidados, os mesmos passos contados. A cama arrumada, raramente bagunçada; a calça padronizada; a camisa às vezes era mudada, nunca estampada ou listrada, mas sempre engomada... Sempre engomada.

Como parte da rotina, o segredo. No espelho estampava o seu medo, sua confirmação. Então, desistia de sair. Tão pouco insistia em insistir. Ensaiava um cansaço e suspirava (Ah!). Arrependia-se de todo o cuidado. Pensava que estaria melhor se tivesse escorregado; se tivesse se machucado.

Percebia-se no espelho um fracassado! na moldura disforme ficava a sua imagem e, como mensagem de si a si mesmo, o olhar baixo, confuso.

Se auto-confirmava e o que ficava de tudo era a angústia por ter que acolher o que os outros acolhiam e a aceitava que não tinha... Que não tinha.

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São Paulo, 27/12/2010