A TROCA SINGULAR

Numa cidade do interior do Estado do Paraná vive um rico industrial, que reside em uma mansão, um verdadeiro palacete, cercado de extremo conforto, servido por mordomos de libré e tudo mais.

O que se possa imaginar a respeito de dispositivos favorecedores da comodidade há naquela mansão.

Só que, apesar de tudo, ele vive sozinho...

É um homem do tipo "cinqüentão", viúvo há alguns anos.

Em certa ocasião estive lá, com um grupo de amigos e, todos demonstrávamos admiração por tudo que víamos quando, a certa altura, ele declarou:

- Eu trocaria de bom grado isto tudo por uma casa simples, uma mansarda até, mas onde houvesse paz, alegria, bom ânimo para viver!...

Ora, aquela afirmação foi como uma bomba atirada sobre os circunstantes.

Estávamos em uma bela "sala de som", conforme era chamada, sendo toda revestida com chapas acústicas, equipada com toda aparelhagem eletrônica possível e imaginável para música, cinema, etc..

Existe uma poltrona, como aquelas dos filmes de James Bond, toda cheia de botões de controle que, sendo acionados, cada um movimenta um dispositivo: som, luzes, tela, projetor, música e outros. Enfim, é uma coisa de cinema sem dúvida...

Alguém lhe perguntou porque dizia aquilo, e ele respondeu:

- Como posso ser feliz se, perdi a esposa há alguns anos e fiquei apenas com meu filho, um jovem que há um ano e meio suicidou-se, aos 19 anos de idade?!

- Era um viciado em entorpecentes... Eu nada percebi, até alguns meses antes de sua morte...

Naquele momento, as lágrimas já inundavam os olhos daquele "poderoso" da Terra e principiavam a rolar face abaixo.

Continuava narrando:

- São tantos os meus negócios financeiros, minhas empresas; são tantas atividades que nunca sobrou sequer algumas horas por semana para conviver, ou, quem sabe, conversar com meu filho... E além de tudo, existem as minhas fazendas; centenas de milhares de alqueires de terras utilizados na agricultura, pecuária, enfim, um império...

- Contudo, prosseguia falando, agora que é tarde, vejo que não tem a importância que lhe dei, a ponto de esquecer meu próprio filho...

Àquela altura, tinha a voz embargada pelo pranto e não conseguia falar; fez uma pausa e, mais tarde, pôde completar seu desabafo, voltando a narrar:

- Segundo me foi relatado por um ex-colega dele, meu "pobre" filho começou a beber logo após a morte de sua mãe. Saía todas as noites em companhia de outros jovens, voltando apenas a altas horas da madrugada. Após algum tempo, conforme o amigo, sentindo-se deprimido e só, ele buscou num cigarro de maconha o falso estímulo que a bebida não lhe dava, começando a triste trajetória rumo ao túmulo.

- Da maconha passou à cocaína, pois aquela perecia não lhe satisfazer e afundou-se rapidamente neste "poço de miséria" que é o tóxico.

- Assim, dos 15 aos 19 anos abandonou os estudos e transformou-se num parasita, num trapo, segundo ele mesmo confidenciou a este amigo.

- E eu, onde estava? - exclama, desalentado... Preocupado com meu império!...

- Até que, nem bem completou 19 anos de idade foi encontrado morto em seu quarto, por um dos serviçais da casa, com uma seringa enfiada no braço; nela havia apenas restos de sangue. Os médicos disseram que ele tomou uma "overdose", talvez por distração ou porque a droga não fosse pura ele morreu.

- Porém sinto que ele agiu deliberadamente buscando a morte! Suicidou-se, talvez pelo vazio que devia sentir em sua alma, pela minha indiferença para com ele, pois era órfão de mãe... e de pai!...

O riquíssimo industrial se nos afigurava um pobre homem, inspirando até compaixão.

Concluindo, declarou:

- É óbvio que, em razão da minha condição financeira, nada foi ventilado em público, apenas alguns comentários à "boca-pequena"; quase ninguém ficou sabendo da tragédia, desde o início até ao epílogo macabro...

- Mas, não adiantam os remorsos, disse ele, estes achaques que experimento; meu filho está morto... E, agora, pergunto eu:

- Alguém sabe desse local pobre, em que haja paz, para ser permutado por este palácio?!

Em função do que foi relatado, as perguntas que, possivelmente seriam feitas pelo leitor, parece que já foram respondidas na seqüência e não há mais nada a dizer, senão que cada um medite, seriamente, no teor desse drama pungente que mostra que a dor também faz morada nos palácios adornados com ouro e púrpura...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 06/01/2011
Reeditado em 06/01/2011
Código do texto: T2712353
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