Pequena Manhã

Naquela manhã acordou atrasada para sua vida. Tentou se encaixar em si e não conseguia, estranhamente estava encolhida. Olhava seu pequeno corpo e não conseguia compreender o que se passava. Além de atrasada estava pequena. Sua pequenez não foi notada no espelho, não foi notada pelas mãos que seguravam a xicara que exalava café matinal, não foi notada pelo porteiro que lhe dissera o bom dia corriqueiro. Aquele aperto a incomodava muito, não cabia em si e não estava completamente satisfeita.

Ele a estava esperando no carro para o sagrado ritual de a acompanhar ate o trabalho todas as manhãs. Revezava o olhar inquieto entre o relógio e a portaria do edíficio em plena orla marítima.

- Bom dia!

- Vamos que estou atrasada.

- O que houve?

- Não sei! Anda depressa, vamos!

Silêncio de um carro apressado.

- Por acaso, notou algo diferente em mim? - perguntou preocupada.

- Você nem me deixou reparar em você...

- Para esse carro. Olha pra mim!

- Espera não dá...

- Para e olha agora!

Ele a repara. Nota os cabelos descuidados, a roupa desajeitada condenando o atraso, as olheiras fundas que formavam uma moldura em seus olhos claros e denunciavam as noites de sonos ela deixava escapar. Percebeu que realmente, algo não estava normal. Ele a olhou nos olhos:

- Você encolheu.

- Tenho meus motivos... você é um deles. Destrava a porta, vou descer aqui mesmo. Amanhã não precisa me buscar, nem me ligar na hora da novela como todos os dias. Neste banco não me cabe mais, meus ouvidos estão estreitos para o grave da tua voz... Tchau!

Ela desceu do carro a atravessou em direção ao mar, sentou-se na areia e se sentiu inteira consigo mesma. Não entendia o que havia se passado naquela manhã, até o momento em que se viu refletida nos olhos daquele homem, enxergava-se exausta, e no fundo de sua retina percebia a pequenez daquele pobre rapaz que a limitava. Cresceu novamente. Souber ser grande.

Ele sem entender, ligou o carro e segiu seu rumo. Esperou a vinheta da novela e ouviu a caixa postal. Na outra manhã em vão aguardou na porta do prédio, seu relógio parou. Olhou para o mar e conteve as lagrimas, ligou o carro e partiu.