PRIVAÇÕES

Quando os olhos não se cruzam, e as mãos não se tocam, quando o perfume não é sentido, a voz é emudecida e a pele intocada... Cumpre-se o que diz o ditado: “o que os olhos não vêem o coração não sente”. E para não sentir, afasta-se, ausenta-se, distancia-se...

Afasta-se na distância de milhares de quilômetros... Cala-se no silêncio de enigmáticas palavras e sinceras frases... Ausenta seu perfume no desconhecimento da fragrância. Consola-se no saber da existência do outro. E se firma na idéia fixa e teimosa de permanecer boiando na superfície recusando-se o mergulho nas profundezas de conviver.

Privar-se do compartilhar mútuo, do apego afetivo e do compromisso em cuidar é a defesa que encontra para não mais sofrer de amor. A ciência prova o que sempre pensou: prazer e dor caminham juntos e originam-se no mesmo lugar do cérebro. Portanto, não se permitirá o prazer do amar para não sofrer a dor que ele sempre lhe traz.

Não adianta seus sacrificiais esforços mediante ausência de forças... Não acredita. A dúvida sempre lhe ronda e o ceticismo tenazmente marca. Não sente a leveza do encontro... Tem apenas o trauma das mentiras do passado que maldosamente continuam afligindo...

Não sabe até quando será assim. Sabe da desordem que tem no presente da vida, da casa, da mente e da alma. Quando tudo se ordenar, a verdade prevalecer e a paz reinar, qual será sua pretensão? Haverá ainda tempo para amar?