MEMORIAS DO BUSCAPÉ = A sua novela virtual
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1 = BELARMINO
Belarmino é um preto velho que viveu quase cem anos na Fazenda Sta.Yolanda, onde foi escravo e depois da abolição, assalariado.
Serviu quatro gerações dos Mesquitas e agora, já bem velhinho, é muito estimado, principalmente pelas crianças que estão sempre a seu redor
Muito religioso, passa a maior parte do tempo com o terço na mão, rezando, e as crianças pedem a ele:
- Belarmino reza dez Aves Maria pra Santo Antônio que eu prometi.
- E por que você mesmo não reza? A promessa é sua e o Santo não vai ficar contente se eu rezar por você.
- Você diz pra ele que eu estou muito ocupado, com muita lição pra fazer...
O outro lembra:
- Reza pra gente encontrar a bola que perdemos no quintal.
- Você pensa que o Santo não tem mais o que fazer que procurar bola de moleque?
- Mas você lembra a ele que faz tempo que eu não peço nada.
A menina aproveita e pede:
- Reza para Santa Clara fazer passar a chuva.
- Mas que é isso, menina, Você não sabe que a chuva é necessária? Se não chover as plantas morrem e vai faltar até água pra beber.
- Então você pede a ela que só deixe chover de noite quando a gente estiver dormindo.
O outro garoto chega meio ressabiado:
- Reza pro meu pai não descobrir que eu tirei dinheiro da carteira dele.
- Imagine só se Santo vai proteger menino ladrão. É bom mesmo que ele descubra e lhe dê uma sova.
- Não diga isso! Se você rezar eu prometo que nunca mais faço isso.
E assim o velho não dava conta de rezar tudo o que os meninos pediam.
As crianças gostavam de ouvi-lo contar histórias.
- Mas eu já contei todas as histórias que sabia.
- Inventa mais uma!
A cabeça do nego véio já está ficando pirada de tanto inventar histórias.
- Mas...
-Ta bom! Vou contar a história do Buscapé.
“Buscapé era um escravo de dentro. Escravo de dentro era mais importante do que escravo de senzala. Morava na casa grande, comia de tudo o que era servido na sala e prestava só pequenos serviços.
O feitor implicava com o Buscapé:
- Que absurdo! Um negro moço e forte como esse, que podia dar um bom rendimento no eito, ficar ai, vagabundeando a maior parte do tempo!
Mas o Coronel queria assim e quem mandava era ele.
O Sinhô não admitia que se castigasse escravos. Nem tronco havia na fazenda.
Muitas vezes chamava a atenção do feitor por maltratar os negros, e o feitor saía resmungando:
- O Coronel é muito mole! Qualquer hora essa negrada se levanta, bota ele pra correr e fica com a fazenda, vocês vão ver?.
Mas, isso nunca aconteceu.
Quando um escravo começava a dar trabalho ele o punha a venda.
Os escravos tinham mais medo de serem vendidos do que de apanhar, pois, contavam-se barbaridades que eram praticadas contra os negros em outras fazendas.
Eles não sabiam se era verdade, mas ninguém queria tirar a prova.
O tempo passou, veio a abolição e o Buscapé continuou na fazenda com o Coronel Mesquita, e depois, com seu filho e seu neto.
Hoje é um velho imprestável que só serve para rezar e contar histórias.
- Buscapé! Você é o Buscapé!
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