Professor solitário

Um professor solitário

Meu professor Joaquim era um homem muito solitário, ficava imaginando como um homem tão agradável e inteligente não tinha ninguém. Um dia tomei coragem e perguntei:

-Por que vive assim na solidão?

— Estou sozinho, não solitário tenho bons amigos.

— Amigos? Sua casa esta sempre vazia e o senhor sozinho.

— Minha casa já foi muito visitada, jantares e festas, muitas festas.

— O que aconteceu?

— Cansei, simples assim.

— Cansou do quê?

— As pessoas vinham a minha casa devido à comida e da diversão, todavia não se importavam comigo.

— Não entendo...

— Não eram meus amigos de verdade, na minha primeira dificuldade, descobri o quanto eles eram ocupados, o quanto não sabiam falar e como me tornei invisível para alguns, às vezes parecia que eu tinha uma doença contagiosa. E descobri como o ser humano pode ser cruel e maldoso.

— O que aconteceu?

— Fiquei solitário num deserto, mesmo pertencendo a um grupo. Um conhecido de infância com quem eu quase não tinha contato soube da minha aflição e me ajudou, posso dizer que se sacrificou por mim.

— O homem que vem a sua casa uma vez na semana?

— Sim, vem jogar xadrez.

— E os outros?

— Sumiram; Hoje sou diferente e não sirvo mais para aquele grupo.

— É muito triste pensar que as pessoas agem assim. Seu único amigo é o senhor do xadrez?

— Não, tenho outros amigos, poucos e verdadeiros

-Quer dizer leais

-Sim, sou estimado e tenho quem se preocupe comigo.

— É bom ter amigos assim.

— São raros, como dizem: nem todo irmão é amigo, mas todo amigo é irmão.

Despedi-me e sai com o livro emprestado na mão, refletindo se estava sendo de valor na vida de alguém. Era uma bela manhã de sábado ensolarada e com vento gelado, caminhava para casa em câmara lenta, porém meu pensamento se acelerava tentando organizar as informações: amigo sincero, falso, irmão... Será que eu era amigo de alguém? Estaria disposto a sacrificar-me por outro?

Meu professor morreu subitamente dois anos depois da nossa conversa e no enterro estavam todos os seus amigos com uma mensagem escrita em suas camisetas: somos seus amigos e nunca te esqueceremos. O que me chamou atenção é que era um número maior do que imaginei, para um homem solitário.

Eu admirava aquele homem como um filho admira o pai, mas nunca lhe disse.

Marya Ferreira
Enviado por Marya Ferreira em 01/01/2011
Reeditado em 28/07/2021
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