O bicho.

Céu nublado, numa manhã silenciosa.

O ar não era puro, mas o clima estava agradável. Um calor refrescado pela brisa gelada que passava por minhas pernas.

Ali me encontrava: de pé, em frente a um prédio. O que estava fazendo lá pouco importa agora.

Ao meu lado, uma pilha de lixo. Sacos molhados, sujos, papelão encardido, potes com restos de comida. Nada era visível ali, além da imundice.

O caminhar das pessoas (sempre apressadas) na rua desviou minha atenção. Encontrei-me em mais um de meus devaneios quando, de repente, um barulho levou meus olhos de volta à pilha de lixo: havia algo se movendo lá.

“É um bicho!”, pensei.

Parecia dos grandes. Movia-se freneticamente embaixo de toda aquela sujeira, como se, a qualquer momento, fosse dar as caras.

E realmente deu.

Para meu espanto, não era um bicho - mas surpreendeu muito mais do que se fosse um.

Aquilo que se movia inconfortavelmente embaixo da imundice, meu Deus, era um homem. Um simples ser humano. E o lixo…bem…o lixo era sua casa. Pelo menos a de hoje.

Em segundos, o rapaz se levantou. Sentou-se e ficou a pensar. Nesse momento, desejei muito saber o que se passava em sua mente.

Depois de alguns minutos de silêncio, o homem foi embora, deixando para trás sua pilha de sujeira e esses pensamentos em minha cabeça, que agora passo para o papel.

É…eu gostaria muito que tivesse sido um bicho.

(…)

Fernanda Gouveia
Enviado por Fernanda Gouveia em 29/12/2010
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