Sonhos.
Depois de um dia tranquilo, chego em casa e deparo-me com um presente.
“É para você”, disse meu pai.
Abri-o sem entender muito bem, porém sentindo que era especial. Adorei o presente, e ainda não sabia quem havia me mandado. Foi quando li o cartão: “Tia Fê, obrigada por ter cuidado de mim, e pelos momentos maravilhosos ao meu lado. Eu gosto muito de você! Beijos da Julia.”
Sem palavras, minha única reação foram as lágrimas. A saudade e arrependimento que senti naquele momento eram inexplicáveis. E, mesmo que não fossem, ninguém entenderia. São sentimentos que ultrapassam qualquer entendimento.
Ganhei um abraço confortador, e subi para meu quarto. Depois de alguns minutos, caí no sono, ainda pensando no rosto doce e inocente da Júlia, lembrando-me de quando me olhava com os olhos brilhando, e de quando sorria e vinha ao meu encontro para me abraçar, beijar e dizer que me amava.
Passados os minutos, encontrei-me numa espécie de festa, aonde todos sorriam e comemoravam algo. Não sei bem o que, mas o lugar era confortador.
Foi quando, em meio a festa, uma moça desconhecida me disse: “Fernanda, vai lá com a Juju! Ela está aqui!”.
Surpresa e extremamente feliz, comecei a procurá-la por todos os cantos - mas não a encontrei.
“Aonde ela está? não estou vendo!”, disse.
“Fê, ela está bem na sua frente.”
Olhei mais uma vez e me deparei com uma garota um pouco mais alta, cabelos de anjo, loiros e com um lindo vestido. A garota estava de costas, passou despercebida por mim.
Foi quando ela se virou, e eu finalmente encontrei a Júlia.
Fiquei chateada por não tê-la reconhecido, afinal, isso significa que muito tempo se passou. Ela mudou, cresceu, e eu não pude acompanhar esse processo.
Quando se virou, olhou para mim e seus olhos brilharam. Neste momento, tive certeza de que a tinha encontrado. Era a minha jujuba. Sua expressão inocente e seu rosto de princesa nada haviam mudado.
Nesse momento, ficamos em silêncio, apenas nos olhando. Era como se precisássemos de tempo para realmente acreditar naquele reencontro.
Devagar, ajoelhei-me no chão, e ela veio ao meu encontro…passo por passo, calmamente, com os olhos ainda brilhando e fitando os meus. Quando finalmente chegou a mim, ainda em silêncio, nos olhamos mais de perto.
A angústia de pensar que talvez ela não se recordasse de mim, tomou conta do meu ser naquele instante. Seria triste demais.
Foi quando ela abriu um sorriso tímido, e finalmente ouvi sua voz: “Tia Fê….”.
Com todo o amor, sinceridade e saudade, ela me abraçou. “Juju…”, disse, abraçando-a forte. Envolvidas naquele abraço, choramos juntas. Difícil descrever este momento - foi maravilhoso. As pessoas silenciaram-se e formaram uma roda em volta de nós: todos se emocionaram também.
E foi assim, abraçadas em meio às lágrimas, que meu sonho chegou ao fim.
Acordei em minha cama e não sabia o que fazer para aliviar a saudade e acalmar meu coração, que parecia não ter voltado à vida real. Nada consegui dizer, nada pude fazer…apenas repassei esse sonho para cá, e pensei muito sobre este assunto.
Não só em relação ao sonho com a Júlia, mas sim aos sonhos em geral que tenho tido.
Sonhos são comumente conhecidos como fantasias fora do real, aonde presenciamos cenas absurdas, que não condizem com a normalidade e realidade da vida.
É, pelo menos eu achava isso.
Os meus sonhos são muito, muito diferentes - já nem sei mais se sonhei ou se realmente vivi aquilo. São todos tão reais, tão cheios de normalidade e sentimento, tão intensos, tão capazes de mexer comigo!
Fico pensando, o que isso significa? Por que, em meio a tantos sonhos irreais, escolho justo aqueles que mais parecem um filme, um trecho de vida, uma história de livro? Não sei…mas gosto que sejam assim.
Assim como gosto de pensar que existe uma explicação para tudo isso, que existe um propósito. Nada é em vão, e creio que, um dia, desvendarei tal mistério.
Uma vez, ouvi de alguém especial: “Seus sonhos não são somente sonhos.”.
E isso fascina-me.
Saudade sem fim, minha Jujuba. Espero que esteja feliz, e que, como em meu sonho, não tenha se esquecido de mim.