ALÉM DAQUI

Era madrugada, Maria não suportando o calor daquela noite quente de verão, levanta-se de sua cama, põe um roupão e sai com passos leves para não acordar os demais amigos que dormem no quarto ao lado. (ela está passando alguns dias das suas férias da faculdade, com seus amigos na casa da fazenda de sua avó, em Angra dos Reis, é uma linda construção do tempo do Brasil colônia, uma casa muito grande com muitos quartos, toda rodeada de varanda, as janelas são imensas, a lua cheia lá fora invade os quartos como um enorme refletor clareando todos os cômodos. Ela sente-se segura para um passeio lá fora. A fazenda é muito grande, de um lado tem a plantação de bananas, do outro uma cachoeira que vai desaguar numa linda praia particular, aquela fazenda é o paraíso!

O ar lá fora está delicioso! Ela perde a noção de onde está e caminha cada vez mais para o meio das árvores, ouve apenas o som dos grilos e o ruido distante da água da cachoeira que forma uma enorme piscina na parte alta e cai em um abismo até formar um rio calmo onde tem lagosta de água doce.

Em um segundo o céu escurece, ficando um breu total. Ela se desespera e tenta fugir, mas suas pernas não obedecem, ficam paralisadas, tenta gritar, mas o grito não sai. Tenta rezar, mas não lembra de nada, apenas repete:

AI MEU DEUS!!! AI MEU DEUS!!!

Uma luz muito suave a envolve e a eleva acima do chão, nesse momento uma paz invade todo o ambiente e Maria se deixa levar.

Percebe que está flutuando em direção a luz, vai subindo, subindo até que ao olhar para frente vê a terra como uma pequena bola azul lá longe, ela olha sua volta e percebe o universo, agora ela é apenas mais um corpo que flutua no espaço, é uma viagem tão fantástica e ao mesmo tempo tão conhecida, nada a assusta, de alguma forma, dentro dela já havia conhecimento daquele local.

Maria finalmente sente seus pés em um lugar sólido, será um outro planeta? Já sei é apenas um sonho bom... Mas é tão real, será abdução de algum disco voador? Que importância tem?

Maria está só, mas este só é cheio de impressões boas, ela quase ouve música, toca os cheiros, eles são tão reais, que avivam sua memória, cada cheiro é como um carinho em seu espírito, a faz sentir o toque carinhoso de sua mãe, quando era apenas uma criancinha, ou a linda noite de natal em que recebia presentes e comia coisas gostosas. O cheiro do seu namorado que lhe deu o primeiro beijo.

Ela chora de alegria, está vivendo algo mágico, mesmo que seja apenas um sonho.

Maria olha fixo para um ponto da luz e reconhece o local, tenta se aproxima mas seu corpo não obedece, a cena fica bem clara diante dela, é um enterro, o seu. A principio sente-se triste, mas ao ver onde está e para onde irá, percebe que não há nada para temer, segue feliz sem olhar para trás, tem a certeza que tudo está bem e logo a vida de todos volta ao seu curso normal.

É assim que sempre foi e deverá seguir sendo, sem tristeza, apenas sendo.