A PRIMEIRA TARDE DE UM VERÃO QUENTE!
O verão teve inicio nesse dia vinte e um de dezembro, exatamente às 14:47 hs – acabou de acontecer – e, com ele, o reforço das chuvas que caem, ininterruptamente, há uma semana. Relâmpagos, raios e trovões, acompanhados de muita água (acho que teremos um Natal mais úmido que os demais).
Olho pela janela de meu quarto e não vislumbro as imagens das pessoas na rua; a água cai com violência e muita vontade. Felizmente, meu bairro, que se localiza na zona central da cidade, é um lugar alto, não sofre os danos das enchentes. Mas chove!
Ah, sim! Agora estou decifrando aquela imagem que me aparece meio desfocada, por entre os pingos grossos da chuva. Alguém na janela de um dos apartamentos do edifício em frente, pede socorro. Grita e gesticula para chamar a atenção, mas me parece que ninguém ouviu; o estrondo de um trovão não permite que se ouça suas palavras.
Saio da janela, pego um café já pronto na cafeteira, que havia posto para trabalhar e volto à janela, desta vez, da sala. Ela continua lá, gesticulando e gritando – alguma coisa acontecera, sem dúvida. Não sei a dimensão do problema mas acho que é o momento de tomar alguma providência. A chuva continua castigando, com ventos fortes e muitos raios e trovões.
Pego o telefone sem fio e ligo para o 190; os bombeiros não tardaram, assisti a tudo de minha janela – o terceiro copo de café quentinho nas mãos. Detesto essas ações de vizinhança intrometida na vida alheia – mas dessa vez, isso foi necessário, cumpri com meu dever de cidadã. Logo notei a maca que transportava, para o interior da ambulância, uma pessoa, do sexo masculino, idade avançada, já imobilizada pelos bombeiros. A mulher que gritava, gesticulando na janela, angustiada, agora calma (era o que parecia), acompanhava o paciente. Antes que entrasse na ambulância, dirigiu seu olhar para minha janela, colocou a mão na boca e jogou-me um beijo.
Não se ouvia nada, o barulho da chuva forte era ensurdecedor, mas consegui ler seus lábios. Ela dissera: MUITO OBRIGADA! DEUS TE ABENÇOE!