Portugal... a "Santa Terrinha"

Junho de 1985. Em um "charter" vindo da Inglaterra, aterrissei no aeroporto de Faro/Algarve - Portugal. Ao passar pelo setor de fiscalização, o agente da "aduana" (alfândega) saudou-me com um sorriso muito simpático. Seja bem-vinda, minha irmãzinha brasileira; sinta-se em casa! Assente-se ali (apontando uma poltrona) - logo lhe oferecerei uma bica(cafezinho).

Tão logo terminou a sua tarefa, indicou-me uma pensão (pequeno hotel) de sua confiança. Não tardou um taxi estava a minha disposição. O motorista aproximou-se e além de ser informado do endereço, foi recomendado a cuidar bem de mim, pois, eu era brasileirinha. Seguimos viagem, logo chegamos ao destino. Abri a bolsa para pagar a corrida, para minha surpresa, estava pago. Despedí-me, subi uma pequena rampa e adentrei a sala de recepção. Uma senhora bem apessoada, estava a minha espera. Instalou-me em meu aposento, batemos um "papinho" e retirou-se. Desfiz a bagagem, arrumei os meus pertences nos devidos lugares e me preparei para dormir.

Dia seguinte, acordei cedo e fui caminhar pela cidade. Estava ansiosa por fotografar e, principalmente, encontrar pessoas para conversar. Nessa andança, um papinho aqui e outro acolá, conquistei muitos amigos.Ao escurecer, voltei para o meu aposento e comecei a esboçar o próximo "tour". Não tardei por definir - optei por Lisboa. O porquê da escolha? Por entender que visitar um país e não conhecer a sua capital, é o mesmo que "ir a Roma e não ver o "Papa".

Descansei da caminhada, adormeci. O relógio despertou, corri a me organizar para tomar o próximo autocarro (ônibus) FARO/LISBOA. Chegando ao destino, com hospedagem já contratada, dirigí-me ao local e lá deixei parte de meus pertences. Dia lindo, ensolarado, de imediato sai a caminhar pelo centro da "bela Lisboa" Ora fotografava a beleza da arquitetura portuguesa, ora fazia uma pausa em suas praças lindíssimas com jardins exuberantes.

Entre uma pausa e outra, caminhava no mesmo ritmo: atravessando ruas, dobrando esquinas... De repente, deparo com a estação do Rossio, embarco em um Comboio (trem) e sigo para Estoril. Minha vizinha de assento _ uma senhorinha muito simpática _ conversamos toda a viagem. Eu falava da satisfação de ter a oportunidade de conhecer o seu país, do carinho recebido de seus patrícios; ela enaltecia o Jorge Amado. Dizia conhecer bem o Brasil, principalmente, a Bahia, pela forma que o autor descrevia em seus livros. Falou, também, do sonho em conhecê-lo pessoalmente. Chegando a Estoril, conversamos só mais um pouco, o tempo suficiente para informar-me que viajaria para o Brasil uma semana depois da data de meu embarque de volta para casa.Marcamos um próximo encontro em Faro e nos despedimos.

Véspera do embarque, conforme combinado, lá estávamos nós em uma taberna, reunidos com alguns amigos que os conquistei em Faro. Foi um encontro inesquecível! Risos, lágrimas de alegria e tristeza... Rolou até discurso! Foi um "rasga seda" total! Terminada a confraternização nos despedimos e tomamos destinos diferentes.

Dia seguinte retornei a minha casa. Dez dias sem notícias da "Rosinha" (esse é o nome da minha amiga), tomei conhecimento que ela voltou para casa no mesmo dia que chegou ao Brasil. Intrigada, busquei informação com alguns dos amigos que participaram do encontro na taberna, mas nada ficou esclarecido. Tentei novos contatos, várias vezes, sem retorno. Desisti, definitivamente, continuar a busca.

Quando eu não esperava, recebi uma cartinha que assim dizia:

"Perdoa-me pela omissão, amiga!

Fiquei tão traumatizada que não quis lhe falar. O tão esperado sonho não aconteceu; deu lugar a um tremendo pesadelo que não me deixa despertar para a realidade. Infelizmente, não são todos que tem o direito a sonhar e realizar. Você veio a Portugal por um acaso, foi cercada de carinho; todas as portas abriram-se para recebê-la. Eu que pensava dia e noite em realizar o sonho de ficar frente a frente com o meu ídolo, tão logo desembarquei, fui assaltada. Levaram a minha bolsa com tudo!

Sem o passaporte, retornei para o meu país, tão carinhosamente bem definido por você: "PORTUGAL a Santa Terrinha"!

Aguardo notícias suas. Um forte abraço,

"Rosinha"