Um Conto de Natal

Matéria envolve matéria, espírito envolve espírito, sentimento envolve sentimento e razão envolve razão. Coração é músculo que pulsa sem cessar, tudo está envolto em um único ser: “você,” seu estado de esquecimento dum pretérito imperfeito.

Mergulhe no seu intimo de sonhador e descobrirá as suas fantasias. Mencione o mundo do lunático e ele te levará a lua. Nunca tente apagar, a chama do sonhador, as fantasias de um lunático. Porque eles dirão: errado do homem que não sonha, infeliz daquele que não tem uma única fantasia.

O cantor sonha em ter a mais bela voz.

O poeta sempre está no encalço de maravilhosas linhas para seus refrões.

A beleza envolve-se com os elogios. E todos se orgulham de ser o que querem ser. Os tropeços de ontem são os melindres de cada um destes personagens, por fim não teremos vozes, poemas, nem tão pouco a beleza rara do imo.

Instinto envolve instinto, animal com animal, menino que não chora pelo leite já se tornou adulto. Porque todos não tornemos crianças novamente?

Hoje o retrato do rebelde infante, está estampado no semblante do homem, que não doou ao próximo amor. Mas pra quê? Refugiar-se em supérfluos materiais, em vez de deixar expandir seu espírito sentimental?

“Conta à estória através do tempo”

Um peregrino chegou numa estalagem pediu nada mais além de pão, um bocado de vinho e uma cama para descansar a carcaça. O dono observando a pobreza do bestial, na sua avareza, tratou logo de despachar o maltrapilho.

Dizendo estarem lotados todos os leitos de sua pensão. O pobre diabo ainda insistiu: - Serve-me o estábulo, durmo com os animais. – brincou inocente e esperançoso. Sentindo-se o senhor da razão, o hoteleiro limitou-se apenas em dizer:

- Nem os cavalos suportariam seu mau cheiro. O andarilho, cabisbaixo, saiu humilhado sem nada mais a argumentar.

Semanas após o acontecido, toda estância ficou sem nenhum hóspede para contar aos outros o ocorrido.

E novamente apareceu batendo na porta do hotel, aquele mesmo caminheiro do tempo, perdido na vida. Mais sujo, mais pobre, com as vestimentas tão esfarrapadas quanto fedorentas, pedindo as mesmas guaridas de outrora.

O proprietário do pardieiro, irritado aos berros sai dizendo.

- Você com seus vermes espantaram todos os turistas da minha pensão. Novamente o viajante retirou-se mudo, pra nunca mais voltar naquelas bandas, principalmente no hotel.

Que se arruinou de tal maneira, que foi a leilão para quitação de hipoteca, o dono com o soldo restante, consumiu logo o dinheiro; mantendo as aparências e as regalias de falsos prestígios, que se perderam com a falência.

O ex-dono do já vendido hotel, passou a perambular pelas ruas da cidade, indo de canto a canto sem eira nem beira. E foi numa noite fria e chuvosa de natal, que ele se deparou, com aquele mesmo cão vadio, que implorou abrigo.

Dormindo num estábulo entre os animais, o ricaço do passado não muito distante, achegou-se do mendigo de antes. Pediu um pão, botando a língua de fora sequiosa de vinho, se dizendo com o corpo dorido.

Porém sem se apiedar de tal sina, o andarilho indagou:

- Não te lembras de mim? Cadê seus cavalos, que não agüentavam o meu mau cheiro? Quero saber se hoje eles suportam o nosso repugnante odor? Hoje desejas realmente o meu pedaço de pão? Os dois maltrapilhos entreolharam-se e num pacto silencioso, se entenderam.

O mendigo alimentou o rico, ele deu guarida ao homem dono de bens, que agora jazia com ele as necessidades materiais do mundo.

O homem só precisa do céu e da terra, para andar e encostar a roupagem física, podemos sim buscar as melhorias, jamais esquecendo os moribundos que nos batem a porta. Pois é deles o reino do senhor!

Imaginem se estes mequetrefes aceitassem se entender, um na riqueza de um e o outro na pobreza do outro. Um não teria que ficar pobre, para descobrir que a vida é feita de trançadelas, nas tramóias do destino, e na vida sejamos ricos ou pobres, nunca se esquecendo de nos colocarmos no lugar do mendigo.

“bater na porta do alheio sentimento é escorraçar com o amor lá de dentro”

FELEZ NALTAL A TODOS DO RECANTISTAS!

E UM PROXIMO 2011 CHEIO DE IDEIAS E POESIAS...

valdison compositor
Enviado por valdison compositor em 19/12/2010
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