Cisma Noturna
Tem gente que tende ao vício. Eu, tendo a obsessões.
A diferença entre o viciado e o obcecado é que o primeiro, mesmo sem querer, precisa, e o segundo, mesmo sem precisar, quer. O obcecado é o sujeito que cisma, teima e persiste, até.... enjoar - se não a si mesmo, a todos aqueles que tem a má sorte de rodeá-lo. Eu, tenho essa mania de cismar com muitas coisas, constantemente - com coisas novas, sempre novas! Não dou a elas o tempo de envelhecer. E uma vez cismada, o trabalho começa - trabalho árduo, afinal, não tem moleza alguma no fazer uma mesma coisa repetidas e repetidas vezes até quase já não aguentar!
Mas tendo vasta experiência nesta coisa de cismar, não me abalo. Pego um embalo e sigo fazendo, seja o que for: a leitura desenfreada de toda a obra de um determinado autor, a contagem do montante de clips que encontrei perdido no fundo de uma gaveta... O hábito do cafezinho que, há anos, segue meu almoço, da taça de vinho para inspirar, e por aí vai.
Não dá para prever quando uma nova cisma surgirá e, consequentemente, não dá para evitá-la.
Imprevista também é a duração de cada nova mania - algumas, se vão na mesma rapidez com que vieram, já outras... Perdi a conta dos anos que bebo café acompanhado de um naco de chocolate, todos os dias, após o almoço. Talvez, aquilo que começou como apenas mais uma mania, tenha evoluído para vício - tá aí, nunca confirmei esse tipo de transição. É preciso mensurar a dependência do ato.
Existem coisas que se gosta, mas não se tem, não se faz, não se precisa. Outras que se odeia, mas repete, todo o santo dia. Minhas obsessões começam como algo que me agrada ao ponto de ser repetido. E de novo. E outra vez. E mais um pouco. Até que estabeleço algum tipo de meta subentendida dentro de minha cabeça. E a obrigação em satisfazê-la torna-se tamanha que o hábito vira obrigação - mania - e esta, sacrifício. E aí, pronto, a cisma está feita.
Eita coisa desagradável! Mas, cá estou eu, escrevendo antes de dormir. Mais um vez.