Mariola Sambou
O samba já tocava às nove horas da manhã. Os vizinhos acordavam de bom humor, na vontade de saltar da cama, escovar os dentes e apreciar a música vinda de uma garagem na Rua Dois. Ninguém sabia o que seria aquela onda contagiante que despertava o sono no domingo, mas era válido participar.
Seu João? É ele que toca samba a essa hora? – disse Mariola, já desanimada com seus oitenta e dois anos. Apesar de a euforia tomar conta de seu corpo, Dona Mariola não conseguia se levantar. Ela queria sair da cama, escovar seus dentes e sair na rua para dançar. Mas não eram seus tempos de moça, e seu fôlego já não era bom, e sua vontade de viver tinha se perdido. A idosa perdera seu marido, se afastara de seus filhos e ainda não conhecera seus netos.
O som do samba começava a aumentar cada vez mais. No primeiro batuque, Mariola deu um sorriso; no segundo, moveu os braços; no terceiro tirou as pernas da cama; no quarto balbuciou; no quinto se levantou. Esse processo levara mais de uma hora, mas Dona Mariola estava de pé. E, surpresa pelo feito, escovou os dentes, abriu a porta de casa e viu o sol brilhar na roda de samba.
Sim, era Seu João e sua banda. Por mais que não tinha fôlego e não era mais moça, saiu às pressas na rua e começou a cantar o som que contagiava todos. Maria de Lourdes, Fátima Brattes, Carine Amarula, Fabrício Cintinelo, Carlúcio Filho; Amaranta Plínio; Chica Nunes. Todos os amigos estavam na roda, todos seus vizinhos se aproximavam e a chamavam para dançar. Era a primeira vez, em vinte anos, que Dona Mariola dançou e esbanjou vida.