Em Mais Uma Manhã

Duas figuras sentavam-se à mesa. Bebericavam café-com-leite de suas xícaras azuis e as pousavam de volta, sem conversar. As vezes olhavam pela janela: miravam as cores do céu nos primeiros minutos de uma manhã de quarta-feira. Comiam pão com determinada pressa; dali a pouco sairiam para trabalhar. Enquanto um concentrava-se na faca de serra que espalhava margarina dentro de um pão-francês, passos sonolentos no chão de madeira anunciava outro que chegava à mesa.

O recém-chegado chama aqueles dois de pai e mãe. Um meio-sorriso de cada um aparece como resposta. O barulho da cadeira arrastada salta pelo ar. Na imobilidade da cena, pode-se ouvir a mastigação de alguém, os goles de café do outro e o tique-taque sem volta do relógio na parede.

A passada de mãos na cabeça do filho indica que é a mãe quem vai trabalhar primeiro. O abrir da porta deixa a rua invadir os ouvidos por alguns segundos. Os que ainda restam ali limpam suas bocas na toalha da mesa e saem. Um vai trabalhar e outro estudar. Caminham sem lembrar que só se verão novamente na manhã do outro dia. Vão em silêncio.