Sonhos de Gueto - Conto Documentário
Com a minha câmera de mão, andando sobre o chão de barro pisado, envolto de barracos feitos de madeira, construídos de forma imprudente sobre barrancos, por não terem escolha e sobre a lente, a história de um garoto de onze anos, que passa a tarde chutando a sua bola feita de trapo por ele mesmo. É incrível como quando criança, mesmo vivendo em meio a tanta dor, nossos sonhos nos fazem sentir invencíveis, onde ainda acreditamos que podemos tudo e os seus sonhos eram grandes, ele queria ser jogador de futebol, seguir os passos de seu ídolo Robinho e assim, poder dar uma vida melhor a sua mãe, que fora abandonada por seu pai, tendo de cria-lo junto a mais duas irmãs.
Enquanto isso logo ao lado na comunidade vizinha, os fogos anunciam a chegada da policia na favela, correria pra todo lado, moradores assustados, enquanto a bandidagem se prepara pra mais um ataque improvisado e logo sendo encurralados, cheiro de ferro enferrujado, mar de sangue pra todo lado e no êxtase o ultimo tiro sendo disparado. Uma bala sem nenhum objetivo, cheia de ódio e de vingança, sem rumo e sem sentido, disparada sobre um último suspiro, último ato de um bandido.
Com os pés descasos rola a bola, chuta a bola entre as traves de madeira e faz o gol... comemora o gol o garoto com um salto e os seus braços para o ar. Sobre um bambu a sua mãe estende as roupas no varal, camisa dez, roupa do santos, seu presente de natal… Logo o momento fatal, cai à bola, chora bola sobre o barro pisado, escorre o sangue sobre o esgoto, sua mãe desesperada tendo em seus braços o seu garoto… Já desfalecido, com seu sonho interrompido, pela bala perdida de um bandido, seu pai não reconhecido.
Me pergunto quantos sonhos ainda se perderão assim de forma tão cruel e tão sem sentido, me pergunto até que ponto os sonhos de alguém se perdem por conta das escolhas de um outro alguém… Ele era apenas um garoto cheio sonhos e de esperança, sem nenhum tipo de herança, ainda com a pureza de uma criança.
Sobre a lente uma realidade que acontece a todo tempo, sonhos que se perdem, que são arquivados e que não passam de um breve momento, calando um sentimento, caindo no esquecimento.
(Sujeito a mudanças)