O acidente do Le Casserole.

E hoje o tempo amanheceu assim, entre nuvens e com probabilidade de chuvas dizia a garota do tempo quando liguei a TV de manhã. Eram sete horas, quando o meu radio relógio me lembrou que começava mais um dia da minha rotina.

Como de costume tomei meu banho, desci de roupão até a cozinha para preparar meu café da manhã. Senti saudades dos tempos em que morava com minha mãe, onde todos os dias eu tinha essa regalia já posta na mesa, e como não segui os seus conselhos para me casar, hoje eu mesmo que preparo o meu café.

Uma chávena de café, que a cafeteira preparava, pois assim era mais pratico e um pão francês, típico Breakfast brasileiro. Sentei no meu sofá, olhei as meias sujas no chão, o sapato esparramado na sala, pensei em pegar e guardar com medo, daí lembrei que não morava mais com minha mãe e ela não poderia me encher por causa do meu desleixo.

Subi para o quarto, coloquei aquele padronizado uniforme da empresa que aparentava muito mais a minha gordura, mais o que deve se esperar de um solteirão que trabalha em um restaurante. A não! Eu não sou o chef da cozinha, nem mesmo o seu ajudante sou apenas um garçom que acorda todos os dias a sete da manhã para limpar copos e talheres.

La Casserole e um típico restaurante francês da cidade de São Paulo, que tem uma boa localização em frente ao romântico Mercado das Flores do Largo de Arouche e mantém a sua tradição desde o ano de sua fundação. Trabalhar como garçom em um restaurante Francês, você deve esta se perguntando: “Esse cara tem boas qualificações!”

Na verdade tudo na minha vida aconteceu por acaso, até o momento em que fui concebido onde minha mãe tinha dado uma escapulida com o seu patrão e daí eu nasci. Meu pai eu nem sei quem é mamãe diz que sou produção independente e que ela nunca precisou de papai para me criar.

Com muito custo terminei o Ensino Médio, e por acaso fui escolhido para fazer um curso de garçom pelo Senac, no começo fiquei meio receoso por ter um certo preconceito sobre a profissão, mais daí como sempre, mamãe me empurrou a educação a goela abaixo. O que não era de se esperar que quem ministraria o curso, era o tal dono desse restaurante, que proporcionaria um emprego ao melhor garçom a seu ver.

E não pense que eu fui o melhor do curso não, como tudo na minha vida foi por acaso aconteceu que um dia eu estava passando pela porta do restaurante, depois de sair de uma festa e confesso que já estava meio alterado, na época eu tinha uma surrada moto quando um carro entrou na minha frente e em bati com tudo na sua traseira e cai desacordado.

Que infelicidade a minha, pobre e órfão de pai e agora acidentado, a vida só podia estar me dando um banho de desgraça e se vingando das sem vergonhices de minha mãe. Eu me lembro de ter acordado na enfermaria, com uma das pernas engessadas e com uma série de machucados no rosto. Minha mãe estava sentada do lado numa cadeira, com os olhos atônitos a mi olhar e um homem que não sabia quem era, estava ao seu lado.

Quando abri os meus olhos, mamãe veio em minha direção e me disse ela não iria pagar pelo estrago na moto. Não recebi sequer uma palavra de afeto que pudesse amenizar a dor física e psicológica que eu estava sentido. Daí a pouco se aproximou o homem que estava ao seu lado, ele me olhou e disse que a culpa do acidente tinha sido dele, pois ele entrara sem ver se estava vindo veiculas atrás.

Mais chega dessa historia de hospital, machucados e dores. O homem que tinha me atropelado era dono do La Casserole e se lembrava de mim nas aulas do Senac e como forma de me pedir desculpas, me ofereceu um emprego em seu restaurante.

E aqui estou eu, atrás de um balcão limpando as taças de cristal vivendo na mesma rotina que já dura 2 anos. Quando acaba o expediente volto pra casa, e logo em seguida tudo começa de novo. Mais o porquê de eu estar contando isso para vocês?! Nem eu sei, apenas para mostrar que eu sou mais um brasileiro que não agüenta mais viver na rotina estressante de São Paulo.

José Luís R. de Villa

Luís de Villa
Enviado por Luís de Villa em 14/12/2010
Código do texto: T2671248
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