Voz de um pequeno
Brincar na linha é legal.
Não é bom não ter o que comer. As vezes só como chiclete, mas não posso reclamar, minha mãe não deixa.
Ela fica com os colegas, todos fumam um cachimbo e depois ficam estranhos, com os olhos vermelhos e se chamo minha mãe, eles me batem.
Eu não sei onde é minha casa. Cada dia fico num lugar. As vezes fico esperando minha mãe aqui mesmo na linha de trem. As vezes os “tios” batem na minha mãe, ela fica toda machucada. Eu não gosto, mas eles são mais fortes. Não posso fazer nada...
Outro dia, ela caiu e ficou babando. Um monte de gente veio, mas ninguém fez nada. Disseram que ela é drogada, eu não sei bem o que é isso. Chorei muito.
Eu quero crescer logo. Ficar do tamanho dos “tios” e cuidar da minha mãe. Tô cansado de ficar sozinho aqui na linha. Quero ter uma casa e também ter um pai pra me defender e cuidar da minha mãe.
Agora preciso ir. Vou brincar...