Conto da noite rubra.
Na noite rubra posso ouvir, no silencio da ausência dos vaga-lumes noturnos, a cidade Grande. E, no corredor passos indecisos e sonâmbulos.
A porta entreaberta do quarto ao lado indica a transição do seu habitante, ora na cozinha ora no banheiro; na alcova, uma passadinha rápida. Então, na ponta dos dedos, “rouba” aquele biscoitinho água-e-sal, para saboreá-lo no cantinho da boca, posto que o barulho da mordida roubaria o sono dos outros habitantes dos quartos vizinhos.
No quarto a televisão está ligada. Retorna-se então o habitante a ele, e, na companhia do seu travesseiro recostar-se na cabeceira da cama e namorar na claridade da TV, os ponteiros do relógio de parede que vagarosamente tiquetaqueia madrugada a dentro.
E eis que no raiar do dia, os pardais vêm lhe despertar daquela madorna, e sem sonhos, recomeçar mais um dia de jornada até a noite, e aí retornar à sua casa e ao seu quarto novamente.
É assim que segue vida de vários outros personagens desta metrópole, vulgarmente denominada de Cidade Grande.