UM   MARIDO  EM  APUROS



     Uma  viagem,   há    tempo,   esperada,  desejada...
     Sim,   levaria  a    empregada.
     O   casal   não   tinha   filhos.  Preocupada,   a  esposa  não   queria  deixar   o  marido   sózinho.  
     Pensou   em    desistir,   mas,  docilmente,  a   colaboração   dele:  -"querida,  fique  tranquila,  estou   bem.   Que   as   duas   aprovitem   bastante   o  passeio.."           E,  mais,  disse   ele:   "divirtam-se;   por    aqui,   eu    me   viro..."
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     As    duas,  com  o  carro  na  estrada.        Ele,  quase  batendo  palmas...        Seria  gostoso  ficar   sózinho.  À  vontade,  assumindo  tudo  na  casa, uma  experiência  diferente  na    sua   condição  de  marido.   Tanta  coisa,   dentro  de   uma  casa, principalmente,  testar uma  pretensa  capacidade   culinária nos préstimos da cozinha.
     "Vou fazer e variar minha  comida,  além de coisinhas mais..."

     Nada de comer fora, seria  inédito.  Fazer e  comer  na   sua  escolha,com    ausência das mulheres na casa.   
     Como  a    tarefa   seria    agradável   com   ninguém   cobrando  ou interferindo,   ninguém  pegando  seus  pés.
     No começo, satisfação ao se apossar de tudo. Estava numa boa para fazer livremente e mexer no que bem entendesse, ao seu prazer.    Que bom  se  a volta das duas demorasse...!

     Passeio   longo   da   acompanhada   esposa,    os  dias   passando... e
uma sequência que começou incomodá-lo.
     Objeto constante na sua condenação: uma  bacia retangular, debaixo de torneiras, chamada pia. No ato da lavação, procurava evitar o acúmulo dos pratos, talheres, copos, panelas...Mas, a pia, continuando cheia.  Aos seus olhos e  disposição, pareceu ao solitário marido uma tarefa  sem  fim. pois sempre havia alguma coisa pra lavar. Se ele estava só, por que tanto resto, tanta gordura, tanto cheiro, numa remoção ou limpeza? Onde o detergente, o sabão, a escova, a espuma, o bombril? E os panos limpos, não úmidos? Como abrir  pouco  ou  muito  aquelas  torneiras  de   tanta  pressão,  sem  o  devido controle, ele que não tinha prática? Nervoso, muitas vezes, abria demais e o jato atingia-lhe a roupa, seguido de um palavrão.
    A cozinha, antes receptiva e fruitiva,  agora, um   local desagradável.  Ele estava envolvido numa persistente mão de obra, ou melhor, houvesse mãos para um despreparado  obreiro. Além do fazimento, das  tentativas frustradas para  variação  na  comida,  -   o   pior   era   o   diário  enfrentamento  com  a  pia.        Foi  tomando  aversão  por  aquela  rotineira  prática  de  lavar,  lavar, lavar.....  até que  chegou o dia, chegou  o momento.   Não  suportava  mais a implacável  pia.
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    Desesperado   e   suplicante,   o   marido  ligou  para  a  esposa:-  "Alô, querida,  alô,  você  pode  ficar  por  aí, mas, me devolva,urgentemente, a empregada"!