O inconveniente
No limite do desespero, com um nó na garganta e vendo que já estava prestes a chorar, resolvi subir até a cobertura do prédio onde eu trabalhava. Lá, havia se tornado meu refúgio, lugar esse que me protegia temporariamente do meu principal algoz. Meu chefe.
Nesse dia, ele havia se superado. Quanto mais eu buscava equilíbrio para lidar com seu destempero, mais eu me sentia frustrado por não obter êxito. E essa rotina massacrante havia minado minha paciência.
Pra minha sorte, a cobertura ficava na maioria das vezes vazia, fato esse que contribuía para eu me recompor emocionalmente. Além disso, a vista panorâmica do bairro do Morumbi era bem agradável, pois em volta do prédio havia uma vasta área verde e podiam-se notar algumas vacas pastando.
Pra minha surpresa, surgiu repentinamente o Jorge, encarregado da limpeza do prédio. Ele e sua inseparável vassoura.
— Ué, o que você está fazendo aqui?
— Nada, só estou tomando um pouco de ar puro e refletindo – respondi já meio desapontado, por ele ter descoberto meu esconderijo.
— Seu Manuel está louco atrás de você.
Sem prestar muita atenção em seu recado, totalmente em alfa, falei em voz alta.
—Que inveja dessas vacas! Estão aí pastando, tranqüilas, sem nenhuma preocupação.
E Jorge em sua simplicidade em enxergar o mundo me solta:
—É mais veja o lado bom, pelo menos você não vai virar hambúrguer.
Pronto, Jorge havia me trazido para a dura realidade. Puto da vida, olhei sério para ele o provoquei, duvidando de sua masculinidade.
— Escuta Jorge, fiquei sabendo que além de você gostar do sexo oposto, é também heterossexual.
E Jorge no auge da sua ignorância, queria saber a qualquer custo quem havia dito uma barbaridade dessas, pois esse infeliz estava com seus dias contados.
Quanto a mim, retornei ao trabalho muito mais aliviado.