40 metros de um mundo

Era majestoso edificio na epoca. Edifício de apartamentos localizava-se na área central da cidade, tornando-o ainda mais majistral.

De escadarias largas, e dois elevadores; coisa fina dizia-se na época.

Subia a escada teimosa a passos largos, quase numa corrida contra ninguém.

Do corredor tinha-se toda a vista da cidade aberta, e para mim no auge de meus 9 anos tudo era fantástico.

Entrando no pequeno apartamento(que na época me parecia imenso), havia-se de um tudo, quase um mundo em seus 40 metros quadrados.

Estantes, cristaleiras, gatos de porcelana e bibelots antigos davam uma aparência de requinte em meio a bagunça que habitava aquele lugar.

Haviam televisores em meio a casa perdidos, talvez nunca tenham sido ligados a uma tomada.

Mais que importava ?

O sorriso de minha avó ao nos ver sempre fora o que tornara aquele lugar mais especial.

E servia-nos de salgadinhos e refrigerantes, e riamos todos de boca cheia.

E subíamos e descíamos de elevador por todos os andares, com minha mãe aos gritos explicando pela talvez milésima vez que iríamos destruir o prédio e ameaçando-nos de nunca mais sair de casa.

Balela! Não nos importava, corríamos pelos corredores, exaustos, respirávamos com sofreguidão e retornávamos aos refrigerantes e biscoitinhos.

Minha avó ficava ainda mais bonita quando feliz, e nos presenteava com xícaras de porcelana e bandejas de prata, que nunca acabavam; pois no domingo seguinte estaríamos la, mastigando salgadinhos e assistindo televisão.

Sentávamos no chão e o apartamento parecia ainda maior quando visto de baixo. Aquele era seu universo, o universo de minha velha avó que transbordava de alegria ao nos ver fuçando e revirando todas as suas antiguidades.

Hoje, vendo estes cômodos pequenos, o edifício degradado enfeitado apenas pelas baratas que também são moradoras antigas; não consigo assimilar que tais lugares são um só.

Que foi feito de ti edifício Pitanguy ?

Estás hoje judiado pelo tempo, e ainda assim ao subir as escadas vejo o olhar de minha avó.

E entre refrigerantes e salgadinhos, e risos e brincadeiras que passei o dia a lembrar de minha avó.

Adormeci de madrugada com o chinelo por perto e o spray de baratas entre os dedos.

Sonhando com o sorriso de minha avó.

Layla Sabongi
Enviado por Layla Sabongi em 07/12/2010
Código do texto: T2658609
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