Clarice Descalça

Clarice era mesmo uma moça confusa, nunca sabia se ia ou vinha.

Bonita de longos cabelos dourados, sorriso aberto daqueles que poucos possuem. Tinha os olhos escuros, vagos e intrigantes. Eram de um formato arredondado com longos cílios.

Caíra da cama as seis em ponto, engolira seu café apressada. Ajeitou o cabelo rapidamente, calçou suas botas e passou pela porta tão rápido quanto pode.

Marines sua mãe mal teve tempo de fazer todas aquelas recomendações maternas a sua filha.

Chegou ao estábulo ofegante, ainda sentindo uma certa moleza nas pernas pela carreira que dera.

Cumprimentou sr venceslau na porteira com um breve bom-dia e tratou de escolher um cavalo. Estava tão ansiosa, seria hoje sua primeira aula de montaria e este era o ápice para Clarice, afinal amava cavalos, potros, éguas , gostava muito dos animais da fazenda. E espera há muito Por esse dia, sua mãe sempre lhe punha impecilios e por conta disto Clarice nunca montou.

Enfim estava ali, sentada a um toco de madeira, chacoalhando a perna nervosamente pela espera sem fim, nada.

Assoviou, roeu cutículas, balançou mãos, braços, coçou a cabeça e nada ...

Mal havia passado 15 minutos.

Enfim, sr Venceslau vinha, a passos lentos, mais vinha.

Sorriu para a menina que tratou de se colocar em pé num pulo e segui-lo.

Ele lhe mostrou uma égua malhada, branca e marrom, de aspecto dócil.

A menina tratou de aceitar a égua e acarinha-la para que ela também a aceitasse, saíram na companhia dela. Seu nome era Monarca, tinha um pelo brilhoso e uma enorme crina, cuidadosamente penteada.

Venceslau auxiliou Clarice a montar e em seguida deu-lhe as instruções.

Então os três saíram, Clarice sorridente montada sob a égua, e Venceslau acompanhando o passo.

Clarice se perguntava pra que montar a cavalo se andava tão lentamente quanto se estivesse a pé?! Num impulso balançou bruscamente as rédeas que Monarca trazia presa a boca. Em um segundo a égua saiu em disparada balançando os cabelos da menina ao vento.

Venceslau a gritar tratou de montar outro cavalo no intuito de resgatar ou socorrer a menina caso fosse necessário.

Mais Clarice, apesar do medo que sentia, nunca estivera tão feliz.

Sim! Ela cavalgava! Seus cabelos bailavam ao vento de frente ao seu rosto, mais ainda podíamos ver o sorriso enlouquecido da menina que descobrira a sensação da liberdade.

Seus cabelos ao vento, as arvores passando por ela velozmente, sentira que poderia passar sua vida ali, sentindo aquele êxtase.

A égua, ausente aos pensamentos da menina aumentava cada vez mais o galope, e Clarice satisfeita apenas sorria, atordoada de alegria, era a melhor sensação que já pudera ter.

A medida que o galope aumentava, maior era a euforia de Clarice, nem percebera que Venceslau aproximava- se cada vez mais delas.

E foi quando ao meio desse rodamoinho de sensações Clarice avistou sr Venceslau, com os olhos em desespero e preocupação tentava acalmar a égua, afim de evitar maiores riscos.

Neste momento a menina distraiu-se e num rompante puxou as rédeas de Monarca, a égua inclinou-se num instante e Clarice foi ao chão. Ainda suja e com os cotovelos ralados Clarice sorria, sorria como uma campeã de hipismo, sorria o sorriso daqueles que acreditam na beleza do que desejam.

Foi para casa ainda mancando para desespero de sua mãe que a proibiu solenemente de praticar esta loucura uma vez mais que fosse.

Clarice ouviu sua mãe sem balbuciar uma palavra sequer. Em seguida foi ao seu quarto, se lavou, esperou que sua mãe adormecesse e tratou de tomar uma aspirina. Limpou suas botas e no dia seguinte caíra ainda mais cedo da cama.

Passou rapidamente pela porta ainda arrumando os cabelos e dirigiu-se a estrebaria.

Afinal, Monarca estava a sua espera.

Tudo que pensava era como seria maravilhoso monta-la descalça desta vez,Clarice sempre gostou de andar descalça.

Clarice era uma moça confusa mesmo, ah mais isso eu já disse.

Layla Sabongi
Enviado por Layla Sabongi em 07/12/2010
Código do texto: T2658505
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