Um caro amigo observador
Sentado num canto, olhando a tudo e a todos com perspicaz inteligência. Quem é, o que é? Vê todo movimento, todas as pessoas, sozinhas, acompanhadas, seladas.
Acaba por ver loucuras, algumas ternuras, e até mesmo torturas. Quase todas involuntárias.
Acho que o conheço, não sei bem. Sei que viu belos olhares, lindos sorrisos, magníficas prosas, como também viu olhares odiosos, sorrisos falsos e conversas nefastas. Viu amores nascerem, se desfazerem, como velho papel que se esfarela com o vento. Presenciou os mais lindos dizeres, juras eternas e mesquinhas. Viu de um pouco tudo!
Recluso em seu mundo, apenas observa. Não participa. Limita-se apenas a observar, já que outrora tentará se aventurar, mas acabará por falhar. Sei que tentou sair uma vez mais, pouco tempo atrás, mas falhou novamente. Boa gente até, mas que infelizmente não soube lidar com seus amores, com seus odores, que exalavam o medo da falha, da falta de confiança. Prendendo-se apenas as suas limitações, tenta interagir com o mundo exterior, atrás dos palcos da vida, como um ardiloso contra-regra que almeja a cadeira de diretor. Não mais atuará. Certo disso ainda não está, mas por hora quer ser aquele que comandará, mesmo que os atores não saibam.
Este que tudo observa, um dia sabe que poderá atuar, como já o dissera antes. Mesmo que ainda não saiba, por estar apenas observando acaba se esquecendo que também pode ser observado. Infelizmente, não percebe. Não percebo. Por hora, agradecemo-nos pelos seus feitos. Ser-nos-ão de deveras utilidade, caro amigo!
Agora, disse-me que tudo que queria era apenas ser mais um. Pobre, limitado aos seus erros, não se da conta que um dia pode se libertar dos grilhões do passado, livrando assim sua sina em ser o observador, e passando então assim, a ser o tão sonhado observado. Tudo que nosso caro jovem sempre quis, foi que alguém olhasse pra ele.