A NOSSA MÃE

Juca foi fazer exame de sangue, para depois darmos uma caminhada na praia, no nosso pedacinho do céu.

Na sala de espera, uma senhora se aproximou de mim.

-Bom dia! Estou sumida da igreja, porque nos mudamos de bairro. Meu dízimo está atrasado quatro meses. Vou consagrá-lo assim que puder. Você sabe que eu estava doente?

-Sim. Dei falta de você nas missas.

-Estou frequentando outra paróquia, mas sinto muita falta da ‘nossa’ comunidade. De vez em quando volto lá.

-Olha quem chegou! É o nosso bispo, Dom Luiz.

-Não. Eu sou Dom Mário. Bom dia para vocês.

-Não sabia que bispo adoecia. – Brinquei.

-Claro que adoece! Vocês são da igreja Santa Rita?

-Sim.

-Eu sou da São Pedro, da Praia do Suá. O senhor vai se encontrar com o meu marido aí dentro. Ele está tirando sangue.

-Chegou a minha vez.

-Amiga, a minha afilhada me disse que deixou o catolicismo depois que soube a verdade.

-Que verdade é essa?!

-Que Nossa Senhora não é Deus.

-Ué!! Todo católico sabe que a Virgem Santíssima não é Deus! Ela é a Mãe de Deus e nossa Mãe também!

-Pois é. Logo a moça, que é de família devota de Nossa Senhora, ignorava este fato tão importante da nossa fé. Tempos atrás, sua mãe bordou uma toalha branca e a doou para o altar do convento da Penha, para pagar uma promessa.

-Que gesto bonito!

-Maravilhoso! Eu lhe disse que a catequese que ela fez, quando criança, não serviu para nada.

-E daí?

-A jovem não fala mais comigo. É uma pena. Gosto muito dela e peço, constantemente, que Maria passe à sua frente.

-Querida, já acabei. Vamos para o calçadão da praia.

-Foi bom te ver tão disposta. Tchau. Fica com Deus e apareça na São Pedro.