Não! à República de Platão!
Cai a noite, tudo volta ao normal.
Janelas, entre-abertas, deixam sopros do calor passar.
Aqui fora, um frio incomum se apossa d´alma e a faz tremer.
O som surdo, quase mudo, ecoa no ar e faz a mariposa voar.
Tênue neblina, a sessar pelas frestas do céu, molha o chão.
Os paralelepípedos brilham e confudem a direção.
Não me intimido pela promessa do castigo, inflijo.
É hora de viver a miséria que tenho na mão.
Maus presságios frustram a vontade. Instintos em extinção.
No peito aflora o pânico, e a crueldade se torna mais ampla.
À custa de alguns, outros detêm a satisfação.
E a casta dominante carece de coragem para estender a mão.
É preciso escapar do sofrimento, e a alma isolar.
Não! à República de Platão.
Fingir ser só, para escapar das garras da justiça social.
A nova era prometida está mutiliada pelos anarcas do poder.
A vida foi tolhida. A vontade reprimida.
Cadê o novo amanhã que não avança?
Onde se esconde essa sociedade tão sofrida?
Que foi feito das relações com segurança?