Quando acham que a sua moral vale apenas 20 contos !
Quando acham que a sua moral vale apenas 20 contos.
Marcos Moreno / Ibitinga
Há mais ou menos 12 anos eu conheci um empresário do Bordado.
Era um camarada jovem, que costumeiramente passava no meu local de trabalho, ou seja, onde eu tinha a franquia da Folha de São Paulo para bater papo ( na cidade de Ibitinga )
Ora ele passava com sua moto ( uma cavala ) que nem sei que marca que era, ou, ora passava com sua caminhonete, que era o carro daquele momento, aquilo ao meu ver custava uma grana preta.
Numa das suas visitas cogitou-se a possibilidade de me contratar na sua empresa, haja visto que a franquia tomava mais tempo só na parte da manhã e eu tinha a parte da tarde para procurar uma outra atividade.
Ele precisava de um Gerente, Chão de Fábrica, porém, a coisa não foi adiante, pois o salário era uma “ merreca ” e é claro, ficamos por aí...
Bem,
a vida tomou outro rumo e eu fui convidado pela Folha de S.Paulo para assumir a Cidade de Botucatu, estava à deriva e precisava de um franqueado que fizesse a coisa funcionar e lá permaneci por quase 9 anos, sendo 5 anos com a Folha e 4 anos trabalhando na Prefeitura local, mais precisamente na Secretaria de Saúde, onde me tornei o Supervisor Financeiro ( cargo comissionado ).
E, quis o destino que voltássemos para Ibitinga novamente, pois lá não conseguimos fazer o sucessor, onde trabalhei por 14 meses na Santa Casa, e era o Encarregado de Compras, porém, uma Administração pífia, me obrigou a desistir de tal função e fui me aventurar numa Loja de Informática, onde eu era o Gerente Comercial ( Gerente da Loja ) que não durou mais que 6 meses a nova função.
Sendo despedido desta forma; veio um funcionário e deu o seguinte recado: à partir de amanhã você não precisa vir mais !
Aqui a coisa funciona assim, em outras palavras: dane-se !
Tentei falar com a tal Diretoria que estavam me dispensando para pelo menos saber o motivo, onde havia errado, mas o recado era esse e ponto final, não tinha o que discutir.!
Diante do quadro mandei o portador levar também o seguinte recado: digam a eles que tenho os meus direitos, ok.
Pra resumir a conversa, fizemos um acordo depois de trinta dias, e eles me pagaram com três cheques ( 30,60 e 90 dias ), pra quem está na merda, qualquer coisa serve.
Precisei é claro trocar um dos cheques, pois as contas estavam pipocando e eu precisava saldá-las com a máxima urgência ( ainda sem emprego depois de 90 dias ), acho que falaram que eu meti eles no pau e todas as empresas da cidade relutam em não me contratar... cidade pequena é soda.!
Pois bem, fui procurar aquele velho amigo ( do começo da história ) que hoje ainda vive do bordado, porém com uma loja mais modesta, já não fabrica mais, agora só revende.
Contou-me esse amigo numa oportunidade, logo que perdi o emprego, que ele tomou um revéz e ficou reduzido a isso, sem capital, muitos problemas, enfim...percebi uma pessoa amarga na conversa que tivemos.
A nossa vida é assim, marcou bobeira, vem a rasteira.
Mesmo sabendo de tudo isso fui à sua procura, afinal, o cheque não era tão alto e ele poderia descontar em banco ou quem sabe pagar seus fornecedores, eu queria era dinheiro e ponto final. Precisava resolver meus problemas.
Humildemente pedi a ele essa gentileza.
Acertado as taxas de descontos, ficou o tal amigo de me entregar tal importância, o que aconteceu conforme o nosso combinado às 17:00 horas ( sexta feira ).
Peguei o dinheiro e coloquei no bolso, agradeci e saí de lá correndo para pagar as contas vencidas e que já tinha gente me cobrando.
Não conferi, pois em função da amizade, repito, mais de 12 anos, achei que dispensava tais cuidados.
Porém, uma coisa ficou martelando e dizendo: confere essa grana !
E foi o que eu fiz !
Não tinha como errar, eu estava zerado até então, somei tudo o que paguei e no saldo apresentava R$ 20,00 ( vinte reais ) à mais ( vinte contos ).
Refiz todos os meus cálculos e cheguei a conclusão que o meu amigo colocou vintão à mais.
Como já passava das 18:00 horas e sua loja fecha pontualmente às 17:15 horas, eu pensei: entrego pra ele amanhã de manhã ou o mais tardar na segunda feira.
Conto pra ele que houve um engano da parte dele e boa, afinal, ele tinha me quebrado um galhão.
Porém, mais tarde, naquele mesmo dia, tipo 21:30 horas ele ligou no meu celular fazendo teatrinho, perguntando quem era, de quem era esse celular, coisas assim... e como eu tenho já registrado o nº dele, apareceu o nome e eu prontamente lhe disse: foi bom você ter me ligado, naquela quantia que você me deu tinha vintão à mais.
Pode ficar tranqüilo que estarei te devolvendo assim que puder, ok.
Ele, oh obrigado, principalmente pela honestidade !
Naquele momento caiu a minha ficha !!
Pensei, que FDP, sacana de uma figa, quis me testar, achou que eu fosse me aproveitar de um possível engano, talvez por eu estar, ainda, desempregado agiu dessa maneira, fiquei mordido.
Hoje às 10:00 horas em ponto ( segunda feira ) adentrei à sua loja, porém com uma sensação estranha, um gosto amargo no céu da boca e uma terrível dor no estômago, desabafei:
Meu amigo, eu perdi o meu emprego, não perdi a minha dignidade, minha moral, minha honra.
Você não devia ter feito o que fez, isso é sujeira grossa, não aceito isso de maneira nenhuma.
Me testou com 20 contos ?
Olha meu amigo, tenho 54 anos e jamais pensei que fosse passar por uma situação tão humilhante assim, te conheço há mais de 12 anos e freqüentamos a mesma casa de oração, você parou pra pensar na sua atitude ?
Você acha que todo mundo é igual à você, mesquinho, traiçoeiro ?
Nunca mais entro na sua loja como amigo, talvez na qualidade de consumidor.
Sacanagem cara, sacanagem heim !
Ficou com cara de bundão, sem saber como se explicar.
Lamentável e muito triste.
Obs: tenho uma poesia que se chama: Quanto vale uma amizade ?
Nesse caso, não passou de vintão.!
Marcos Moreno / Ibitinga
Caso verídico ( 29.11.10 )