PANELA E SAL
-Bom dia Omar! Que dia maravilhoso! Boa caminhada para nós.
-Bom dia, Ana! O que você está olhando no chão?
-As formigas carregando florzinhas amarelas, que caem da castanheira, para enfeitar as suas casas.
-No nosso sítio, elas não carregam o veneno granulado que minha esposa põe no jardim. Só carregam as plantinhas dela. Tchau!
-Tchau! Bom dia, meus irmãos!
-Bom dia, tia.
-Tenho uma curiosidade. Gostaria de saber o que vocês tanto cheiram nessas garrafinhas. Deixe-me cheirar também. Huummm... É tinta?
-Não, tia; é tinner. Não cheire mais, senão a senhora vai ficar doidona.
-Como você se chama?
-Agnaldo. Sou da Bahia. O pai do neném é outro. Sou companheiro dela. Tomo conta e arrumo comida pra ela comer.
-Meu nome é Rute e sou daqui mesmo. Estou grávida. É um menino vai se chamar André Marcos.
-Sua mãe deve ser uma mulher de muita fé, pois te colocou nome da Bíblia.
-Não tenho pai e nem mãe. Tenho uma filha de seis anos, que está com a minha avó.
-Você, além de bonita, é uma mulher de Deus. André e Marcos também são nomes bíblicos. Rute, isso faz mal para o seu bebê.
-Engraçado, tia. Quando eu cheiro, ele se mexe muito.
-Ele está pedindo socorro. Já pensou que ele pode não nascer? Ou nascer doentinho e te dar trabalho para o resto da vida? Vocês têm comida aí?
-Tem pão e refri. Olha. Tenho dois reais para comprar mais refri.
-Compra leite. É mais saudável para vocês e o seu filhinho.
-Tia, arranja uma panela velha e sal, pra nós. Vou pedir umas coisas na feira. Lá tem mulher boa que dá verdura pra nós. Vou cozinhar pra ela, ali na areia da praia.
-Traz roupinha de neném pra mim.
-Está bom. Segunda-feira voltarei. Vocês não sabem o meu nome.
-É Maria?
-Não, Rute; é Ana. O nome da mãe de Maria, que é a Mãe de Jesus. Meu marido está me esperando. Fiquem com Deus.
Querido, agora vou comer a minha banana. Não. Vou dá-la para Rute.
Uai! Onde ela está?! A mulher desapareceu!!