Decisão
Noite de outubro de 1954. A lua emprestava um ar melancólico à cidade de Brejeiras. Uma ave noturna rasgava o céu num vôo solitário. Numa rua à beira-mar um grupo de homens quebrava o silêncio e a ordem numa briga feroz. Diana, em frente do espelho, vestia-se enquanto uma lágrima molhava-lhe a face. A atmosfera daquele ambiente era triste e fazer o que fazia para sobreviver era mais triste ainda. Mas, só restou-lhe a vida não tão fácil naquele bordel, depois da morte da mãe e do despejo da casa onde morava. Definitivamente era a mulher mais bela entre as outras que ali “trabalhavam”, a mais solicitada e estimada pela dona da casa, mas sua cabeça e o seu coração idealizavam um outro destino. E agora, diante do espelho, imaginava viver em outro lugar com alguém que realmente lhe quisesse bem e que lhe restituísse a alegria de dias passados.
_ Aqui está. - Uma voz quebrou o silêncio enquanto um maço de notas lhe era oferecido. – Com você é sempre bom.
_ Obrigada. - respondeu Diana. E voltou aos seus pensamentos.
A porta do quarto abriu-se permitindo que o corpo alto e gordo do
Comendador Almeida saísse e o ruído quente da música entrasse. Diana enxugava agora o rosto e finalmente decidia-se:
_ Minha vida será outra, viverei dignamente, freqüentarei igreja e meus pecados serão absolvidos. Andarei de cabeça erguida e não terei mais os homens que não quero e que me têm por dinheiro. Eu vou mudar. Terminara de vestir-se, retocara a maquiagem. Respirou profundamente e o ar pareceu-lhe confirmar suas esperanças. Benzeu-se, mesmo sem saber porquê. Saiu para o corredor, de onde via, ao pé da escada, pessoas que riam risadas bêbadas e impregnadas de fumaça. Notou que todos os olhares do lugar a olhavam, e fazendo valer a vontade da decisão que acabara de tomar em frente ao espelho, disse:
_ O próximo, por favor.
Primavera 2005