Ô Tiozinho!

“ ô Tiozinho!” Uma voz rouca gritava do alto das escadas da entrada da boate. Um tumulto formou-se e a tentativa de “furarfila” não durou muito e se desfez. Continuava ouvindo a voz chamar, resolvi levantar a cabeça quando senti uma mão em meu ombro: “olha , o cara lá em cima esta te chamando” . Me dei conta que o Tiozinho era eu mesmo. Ao lado dele estava Lú acenando e rindo, já havia percebido a situação. Ainda constrangido fiquei pensando como podeira aquele sujeito calcular a minha idade - tá certo que estava a uma semana de completar meus quarenta anos - nada em mim dava essa impressão. Fui abrindo caminho e passei por baixo do cordão de isolamento. Isso foi possível porque a Lú é amiga antiga do dono da boate. Parece mentira mas tem coisas que perdemos o jeito e sair pra dançar é uma delas.

Depois do acontecido passei a noite a pensar e me lembrei que na semana passada minha sobrinha me atormentou para que eu a levasse ao shopping; a cada cinco minutos vinha ela com “Tio, me leva no shopping?” já estava irritado e soltei um “Carol, vira o disco” . O silêncio tomou conta, mas não por muito tempo, sua testa franzida e com os olhinhos bem abertos perguntou “que disco?” . A ficha caiu... nem sei se posso dizer isso sem me obrigar a por uma nota no rodapé.

Onde estava mesmo? Ah! Na boate. Lú dançou a noite toda e eu também. Ela tomou o cuidado de me levar numa dessas festas plocs que tocam músicas dos anos 80. Embora o título de tiozinho tenha sido cunhado pela propaganda da sukita, eu gosto mesmo é de fanta e ainda que a Lú seja seis anos mais nova que eu, ela também já passou dos trinta.

De qualquer forma bateu a maior nostalgia e no dia seguinte pela manhã vasculhei em minhas gavetas e encontrei meu velho companheiro de caminhada: um walkman, um k7 do Biquini Cavadão e fui para Lagoa caminhar e me convencer da chegada inevitável dos meus quarenta anos.

Que sejam bem vindos!