NA REDE -*
— Já acordou com a cara amarrada? Que horas foi dormir ontem?
Ouviu a pergunta sentando-se a mesa e empurrando tudo que estava sobre ela com os cotovelos para o café da manhã.
— Mais modos à mesa!
— Estou morto de sono.
Falou e já foi deitando a cabeça sobre os braços e seu pai lhe disse firme:
— Sente-se direito.
Ouviu sentindo a mão de sua mãe sobre seu ombro como sempre fazia para que ele obedecesse e ele levanta a cabeça e recolhe os braços. E sua mãe carinhosamente se senta e re-arruma a mesa e seu pai lhe fala:
— Trocar o dia pela noite na internete vai acabar te adoecendo.
E ouve a resposta.
— Não tem nada a ver.
A sua mãe apaziguadora interrompe e...
— Hoje é um dia de festa e...
— Pensei que tinham esquecido.
E na mesma hora falaram em conjunto:
— Feliz aniversário!
E seu pai lhe pergunta:
— Quer comemorar como?
— Vou dar um festão se vocês deixarem.
Ele mantinha suas notas no colégio na média. O suficiente para passar de ano, mas estranhavam a falta de amigos e seu pai lhe diz:
— Se você garantir que será responsável por mim a casa está liberada.
— Pai, fique tranqüilo.
— Eu e sua mãe vamos sair. Portanto, responsabilidade.
E quando já se dirigiam para o carro a sua esposa lhe pergunta:
— Quinze anos e a casa liberada, não é perigoso?
— Ele vai ter que aprender.
E saíram para trabalhar. Mas não sem antes fazer as encomendas de salgados, refrigerantes e até mesmo algumas cervejas. Queriam que a festa fosse um sucesso e no cair da tarde a campainha toca e Pedro quando abre a porta olha incrédulo aquele monte de pacotes e bebidas. Acomoda tudo sobre a mesa e retorna ao computador e a seus amigos na internete.
A noite vinga, seus pais retornam já de madrugada esperando encontrar a casa cheia, mas quando notam o silêncio se sentem aliviados, pois no fundo queriam eram dormir, mas quando entraram o que viram foi toda a encomenda sobre a mesa intocada e foram direto ao quarto de Pedro que dormia em frente do computador ligado onde se lia em diversas línguas: Feliz aniversário.