Contraste
A lata d’água na cabeça pesa menos do que a vontade de ter uma boa saúde, de ter uma criança sorrindo de barriga cheia, sem fome e sem sede.
A lata d'água na cabeça pesa menos do que a vontade de ver meu marido sair para a lida na roça.
Pesa menos do que a vontade de ver a novela das oito numa televisão de plasma de trinta e duas polegadas, com imagem sem distorção, para isso seria a parabólica a solução, mesmo que perto dela esteja uma chaminé de fumaça que sai do fogão de lenha onde faz a comida com panela de pressão.
A lata d'água na cabeça pesa menos do que ter de dar bom dia para a vizinha com quem há anos não falo, passo por ela e me calo.
Meus filhos pequenos, não levam lata d’água na cabeça mas em seu lugar usam o cavalo.
Logo ali, bem perto tem água limpa, dada pelo governo, mas é do poço de água da chuva, acumulada no buraco que tiro latas d’água para não morrer de sede.
Em casa, o homem que eu amo está na rede, descansando do que nada fez.
Seu dominó entre amigos é indispensável, sob a sombra da amendoeira e ali perto a geladeira, cheia de cerveja para dar suporte a brincadeira.
Quero escrever, não sei... Quero ler: ninguém me ensinou.
Quero dizer que sou muito feliz
Mesmo carregando lata d’água na cabeça
Tenho tudo que quis.