O Vidente
Cheguei ao barzinho de sempre, acompanhado de dois colegas de copo. Era uma noite agradável e tudo indicaria que o melhor ainda estava por vir. E o melhor tinha nome, era Marlene, uma morena cor de jambo que deixava os homens loucos de desejos, mas que já tinha dono. Eu, claro.
Tinha marcado o encontro com ela e suas amigas, a fim de apresentá-las aos dois encalhados.
Devido ao teor profundo da nossa conversa, não me dei conta de alguém que se aproximou por trás de mim e tapando meus olhos com as mãos finas e perfumadas perguntou:
— Adivinha quem é?
Pensei em dizer que já sabia quem era, mas me calei e deixei rolar. Pro meu espanto, era a Adriana, minha noiva. Naquele instante, me lembrei do que a Marlene havia dito na noite em que nos conhecemos:
— Ok, você tem uma noiva, obrigado pela sinceridade. Podia ter dito isso antes de eu ter ficado quase a noite inteira com você, mas tudo bem. Só vou lhe pedir uma coisa. Não me apareça com ela neste bar ou verá do que sou capaz.
Fiquei em estado de choque, completamente estarrecido e sem reação. Adriana nada boba percebeu minha aflição logo de imediato.
— Que cara é essa, não gostou da surpresa?
— Claro que gostei. Mas você não me falou que iria sair com a Neide?
— Ela mudou de idéia, deu pra trás. Resolvi então ir até a sua casa e sua mãe me falou que você tinha saído com seus amigos e logo presumi que vocês viriam aqui.
— Que sabidinha hein – Soltei esse elogio já com o cuzinho na mão.
Diante daquela situação, me esqueci de apresentar os que eu já julgava cúmplices da baixaria que viria pela frente.
Depois das apresentações, notei que meus colegas também estavam incomodados com a situação, instalando assim um clima de terror naquela mesa. Como eu estava de costas para entrada do bar, passei a olhar incansavelmente para trás, esperando o início do espetáculo do qual eu seria protagonista.
Adriana, que não era nada boba, percebeu minha aflição e me perguntou:
— Mas por que você olha tanto pra trás, está esperando mais alguém?
— Eu? Imagina
— Então o que está acontecendo? – Insistiu ela
— É que estou com um mal pressentimento
Dois minutos depois, teve início a um quebra pau generalizado do lado de fora do bar. Socos, chutes, garrafadas, cadeiradas, sangue, choros, etc. Ingredientes que não podem faltar em uma boa briga de bar.
Peguei a Adriana pelo braço e sai correndo em direção a um taxi que vinha passando.
Distante daquela algazarra a caminho de casa, Adriana me pergunta:
— Você é vidente?